Câncer de mama:: é o segundo tipo de câncer mais incidente entre as brasileiras, atrás apenas do câncer de pele não melanoma (Foto/Thinkstock)
Lucas Agrela
Publicado em 22 de outubro de 2018 às 14h54.
Última atualização em 22 de outubro de 2018 às 14h56.
As empresas farmacêuticas estão aperfeiçoando a escolha dos pacientes com câncer que se beneficiarão com as novas imunoterapias -- e descobrindo muito mais deles do que os céticos pensavam.
Pela primeira vez, um ensaio clínico mostrou que um tratamento com um dos medicamentos da nova geração desenvolvido para colocar o sistema imunológico do próprio corpo contra os tumores pode ajudar algumas mulheres com o tipo mais agressivo de câncer de mama a viver mais. O estudo foi revelado pela Roche Holding na maior conferência sobre o câncer da Europa.
Esses medicamentos, liderados pelo campeão de vendas Keytruda, da Merck & Co., são comercializados para mais de uma dúzia de tipos diferentes de câncer, e as companhias farmacêuticas estão trabalhando obsessivamente para expandir suas aplicações com versões mais recentes e coquetéis de tratamento. Existem cerca de 1.300 tratamentos baseados no sistema imunológico em estudos em seres humanos, segundo o Instituto de Pesquisa do Câncer (CRI, na sigla em inglês), financiados em grande parte por fabricantes de medicamentos em busca de uma fatia de um mercado que deverá superar US$ 100 bilhões por ano até 2024.
“Esta é apenas a ponta do iceberg”, disse Axel Hoos, chefe de pesquisa e desenvolvimento em oncologia da gigante farmacêutica britânica GlaxoSmithKline, que tenta voltar ao ramo da oncologia após vender seus produtos à Novartis, em 2015. “Há certo oba-oba, mas há muita substância.”
Na reunião da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO, na sigla em inglês), no fim de semana, a Roche divulgou os resultados de um estudo que mostrou que um grupo de pacientes cujos tumores de mama deram positivo para uma proteína chamada PD-L1 viveu em média 25 meses depois de receber uma imunoterapia chamada Tecentriq -- cerca de 10 meses a mais do que pacientes que receberam apenas quimioterapia.
As imunoterapias entraram na cena há cerca de oito anos, quando o Yervoy, da Bristol-Myers Squibb, se tornou o primeiro medicamento do gênero a prolongar a vida de pessoas com melanoma, um câncer de pele letal. Pouco depois, houve êxitos contra cânceres de rim e pulmão.
Quando as imunoterapias funcionam, o efeito pode durar anos, uma das razões pelas quais esses tratamentos são considerados revolucionários. Mas na maioria dos pacientes não acontece nada útil -- mesmo em tumores de pele e pulmão, nos quais foram observados alguns dos efeitos mais significativos.
“Existem alguns tipos de câncer que o sistema imunológico simplesmente não consegue reconhecer”, disse Mace Rothenberg, diretor de desenvolvimento para oncologia da gigantesca farmacêutica americana Pfizer. Como não são percebidos pelo radar protetor do corpo, os cientistas se referem a eles como “tumores frios”.
O estudo da Roche sobre o câncer de mama ajudou a respaldar a ideia de que há formas de os médicos identificarem mais cânceres para serem submetidos à imunoterapia. O medicamento usado no estudo, o Tecentriq, bloqueia uma proteína chamada PD-L1, que dificulta o ataque do sistema imunológico ao câncer, e apenas mulheres cujos tumores tinham altos níveis da proteína foram ajudadas.
“Ainda estamos em um estágio superficial”, disse Luciano Rossetti, chefe de pesquisa e desenvolvimento global para biofarma da alemã Merck KGaA. “Estamos tendo uma primeira onda de entusiasmo real.”