Teste de swab nasal: procedimento perfurou o revestimento do cérebro de uma mulher nos Estados Unidos (Rovena Rosa/Agência Brasil)
AFP
Publicado em 1 de outubro de 2020 às 21h04.
Última atualização em 1 de outubro de 2020 às 21h17.
Um teste de swab nasal para a covid-19 perfurou o revestimento do cérebro de uma mulher nos Estados Unidos, fazendo com que o fluido vazasse pelo seu nariz e a colocasse em risco de desenvolver uma infecção fatal, relataram médicos em um jornal especializado nesta quinta-feira, 1º.
A paciente, que tem cerca de 40 anos, apresentava uma condição rara não diagnosticada — além de que o exame pode ter sido realizado de forma inadequada —, uma sequência de eventos improváveis que faz com que o risco dos exames nasais continue sendo baixo.
No entanto, seu caso mostrou que os profissionais de saúde devem ter o cuidado de seguir os protocolos do teste, disse à AFP Jarrett Walsh, principal autor do artigo publicado no periódico científico Jama Otolaryngology — Head & Neck Surgery.
Se possível, pessoas que passaram por uma cirurgia extensa nos seios da face ou na base do crânio devem considerar a solicitação de um teste oral, acrescentou.
"Isso ressalta a necessidade de treinamento adequado de quem realiza o teste e a necessidade de vigilância após a realização do mesmo", acrescentou o especialista em ouvido, nariz e garganta Dennis Kraus, do Hospital Lenox Hill em Nova York, que não participou do estudo.
Walsh, que atende no Hospital da Universidade de Iowa, disse que a mulher havia feito um teste nasal antes de uma cirurgia eletiva de hérnia, e depois notou um fluido claro saindo de um lado do nariz.
Pouco tempo depois, ela começou a ter dor de cabeça, vômitos, rigidez de nuca e sensibilidade à luz, e foi levada aos cuidados de Walsh.
"Ela havia sido submetida ao swab anteriormente para outro procedimento, do mesmo lado, sem problemas. Ela considera que talvez o segundo teste não tenha usado a melhor técnica e que a entrada estava um pouco alta", informou o médico.
A mulher havia sido tratada anos antes de hipertensão intracraniana — o que significava que a pressão do líquido cefalorraquidiano que protege e nutre o cérebro era muito alta.
Na época, os médicos usaram um implante para drenar parte do fluido e a condição foi resolvida.
Porém, fez com que ela desenvolvesse o que é chamado de encefalocele, ou um defeito na base do crânio que fazia o revestimento do cérebro projetar-se para o nariz, onde era suscetível a uma ruptura.
Isso passou despercebido até que antigos exames foram analisados por seus novos médicos, que realizaram uma cirurgia para reparar o problema em julho.
A paciente já se recuperou totalmente.
Walsh disse acreditar que os sintomas que ela desenvolveu foram resultado de irritação no revestimento do cérebro.
Se o problema não tivesse sido tratado, ela poderia ter desenvolvido uma infecção cerebral potencialmente fatal, causada por uma bactéria que subisse pelo nariz.