Desequilíbrio de energia: pesquisadores estudaram diferença entre quantidade de calor absorvida pela Terra e a quantidade refletida de volta para o espaço (Mike Blake/Reuters)
Laura Pancini
Publicado em 19 de junho de 2021 às 08h00.
A quantidade de calor aprisionada pela terra, oceano e atmosfera da Terra dobrou ao longo de apenas 14 anos, mostra novo estudo da Nasa e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA).
Os pesquisadores estudaram o desequilíbrio de energia, diferença entre a quantidade de calor absorvida pela Terra e a quantidade refletida de volta para o espaço.
Publicado no periódico científico Geophysical Research Letters, o estudo mostra que, de 2005 a 2019, a quantidade de calor absorvida pelo planeta aumentou consideravelmente.
Para chegar a tal conclusão, a equipe analisou medições dos satélites da Nasa, que rastreiam quanto da energia do Sol entra na atmosfera e quanto é devolvido ao espaço, e comparou com dados da NOAA sobre as temperaturas do oceano — assim, eles descobrem quanto calor está sendo absorvido pelo oceano.
"Uma vez que aproximadamente 90% do excesso de energia de um desequilíbrio termina no oceano, as tendências gerais da radiação que entra e sai devem concordar amplamente com as mudanças no calor do oceano", disse a Nasa em comunicado.
“As duas formas independentes de olhar para as mudanças no desequilíbrio de energia da Terra estão em uma concordância muito boa, e ambas mostram essa tendência muito grande, o que nos dá confiança de que o que estamos vendo é um fenômeno real e não apenas um artefato instrumental”, disse Norman Loeb, pesquisador da Nasa e principal autor do estudo.
Entre os possíveis motivos para explicar o fenômeno, estão as mudanças climáticas causada pelo homem e o aumento de emissão de gases de efeito estufa, o que leva a mais calor retido.
Outro fator relevante é que o derretimento do gelo e da neve, duas substâncias que ajudam a refletir o calor de volta ao espaço, também acontece. Sem elas, mais calor é absorvido pela terra e pelos oceanos.
Por último, também houve uma mudança natural em um fenômeno cíclico conhecido como Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Entre 2014 e 2019, o ODP passou por uma "fase quente" que levou a formação de menos nuvens e, consequentemente, mais calor retido pelas águas dos oceanos.
Para Loeb, a combinação de mudanças climáticas e naturais levou ao grande desequilíbrio na enegia da Terra. Os pesquisadores terão que coletar mais dados para ter certeza de que o fenômeno não é apenas algo passageiro, já que 14 anos é relativamente pouco tempo em comparação com a história climática da Terra.
“Minha esperança é que este desequilíbrio de energia diminua nas próximas décadas”, disse Loeb à CNN norte-americana. “Caso contrário, veremos mudanças climáticas mais alarmantes.”