Imagem da Duke University mostra um pólipo do coral com um pedaço de plástico. (Alex Seymour, Duke Univ./Divulgação)
Vanessa Barbosa
Publicado em 12 de novembro de 2017 às 08h27.
Última atualização em 13 de novembro de 2017 às 18h37.
São Paulo - A ingestão de lixo plástico é uma das maiores ameaças à vida marinha na atualidade. Quando plásticos chegam aos oceanos, eles se quebram em minúsculos pedaços, que são facilmente confundidos por alimentos pelos animais, acarretando em uma série de problemas de saúde - asfixia, ferimentos internos, desnutrição - podendo até levar à morte. Mas nem sempre a ingestão acidental é o problema.
Pesquisadores da Duke University descobriram que, em se tratando dos corais, a ingestão de microplásticos pode se dar por outro motivo: eles "gostam" do sabor. Como os plásticos podem liberar centenas de compostos químicos em seus corpos e no ambiente circundante, a suspeita é de que os corais tenham um apetite especial por algumas dessas substâncias, mas os cientistas ainda não sabem dizer quais.
Os efeitos biológicos desse "fast-food" de compostos químicos para os corais ainda são desconhecidos, mas alguns, como os ftalatos, são conhecidos estrogênios e androgênios ambientais, hormônios que afetam a determinação do sexo. O estudo foi publicado no periódico Marine Pollution Bulletin.
Para o experimento, os pesquisadores coletaram corais na costa da Carolina do Norte, nos EUA, e os colocaram num tanque de água salgada. Na hora de alimentá-los, eles deixavam cair pedaços de plástico e de areia do mesmo tamanho perto dos pólipos, aquelas estruturas cilíndricas em forma de saco que formam o corpo do coral e em cuja extremidade superior se encontra a boca.
No primeiro experimento, eles usaram oito tipos diferentes de microplásticos e grãos de areia limpos. Quando reconheciam os grãos de areia, a boca dos pólipos se fechava. Já os plásticos..."Descobrimos que os corais comeram todos os tipos de plástico que oferecemos e praticamente ignoraram a areia", disse o pesquisador Austin S. Allen, em comunicado da universidade. "Isso sugere que o próprio plástico contém algo que o torne saboroso".
O coral não tem olhos, o que significa que eles procuram alimentos usando sensores químicos, que seriam a versão da língua. Essencialmente, eles devem provar algo para decidir se é comida. O coral comeu 80% do plástico oferecido, mas comeu areia apenas uma vez em 10 tentativas, o que significa que eles podem perceber uma diferença entre os dois.
No segundo experimento, eles dividiram os corais em câmaras de alimentação separadas. A cada grupo foi oferecida a mesma quantidade de "alimentos" plásticos durante um período de 30 minutos, mas alguns grupos receberam apenas partículas microplásticas puras e limpas, enquanto outros receberam microplásticos cobertos por um biofilme bacteriano, que máscara o "sabor" do plástico.
Dessa vez, os pesquisadores verificaram que os corais comeram os dois tipos de plástico, mas preferiram o tipo puro por uma margem de três a um, talvez porque os plásticos novos possuem carga química mais alta do que aqueles que já estão em fases avançadas de degradação. Além disso, cerca de 8% do plástico ingerido ficava retido nos sistemas digestórios dos corais por 24h ou mais.
Os pesquisadores esperam que suas descobertas incentivem mais pesquisas para explorar o papel que o "gosto" do plástico desempenha e por que os organismos marinhos ingerem os microplásticos, procurando formas de contornar esse problema.