(Sarchi/Creative Commons/Wikimedia Commons)
EFE
Publicado em 18 de março de 2019 às 10h26.
Um novo estudo publicado pela revista científica "Science" defende que vários sons das línguas modernas surgiram recentemente devido às mudanças na alimentação dos seres humanos.
Aparentemente, a adoção de novos tipos de nutrição provocaram alterações nas mandíbulas e na forma de morder, o que permitiu que os seres humanos pronunciassem novos sons, como "f" e "v", letras presentes em grande parte das línguas faladas atualmente.
"Especialmente aqueles fonemas pronunciados ao tocar o lábio inferior com os dentes superiores - como, por exemplo, a letra "f" - cresceram nos últimos milênios com o desenvolvimento da agricultura e do processamento de alimentos", disse o pesquisador Steven Moran, da Universidade de Zurique, coautor do estudo ao lado de Damian Blasi e Baltashar Bickel.
Segundo a pesquisa, as condições biológicas foram subvalorizadas na hora de explicar o desenvolvimento dos fonemas humanos.
Até então, acreditava-se que os sons permaneceram sem alteração desde o surgimento do homo sapiens há 300 mil anos, independentemente de qualquer mudança posterior na biologia humana.
Mas a equipe de pesquisadores da Universidade de Zurique decidiu estudar como os sons e o discurso humano foram evoluindo, acompanhando ao mesmo tempo as mudanças na dieta que afetaram a mandíbula, especialmente após o abandono da caça e da coleta.
Dessa forma, eles provaram que uma alteração na estrutura dental adulta humana fez com que os dentes superiores crescessem um pouco mais do que os inferiores. A evolução ocorreu graças às melhores ferramentas para processar os alimentos e a uma dieta mais leve.
O novo estudo continuou uma pesquisa iniciada em 1985 pelo linguista Charles Hocket, que argumentou que as línguas que incluem grande quantidade de sons do tipo "f" e "v" são geralmente aquelas onde a população come mais "alimentos leves".
Bickel destacou que os resultados da pesquisa mostram que são "ainda mais complexos" os vínculos entre as práticas culturais, a biologia humana e a linguagem.
"Também desafiam a lenda urbana que, quando se trata de linguagem, o passado soa como o presente", explicou.