Cão: a comunicação visual e a alternância de olhares são os elementos mais característicos dessa relação (Oli Scarff/Getty Images)
Ana Laura Prado
Publicado em 20 de outubro de 2016 às 05h55.
Última atualização em 20 de outubro de 2016 às 08h07.
São Paulo – Além de se comunicarem visualmente com seus tutores, os cães são capazes de identificar se eles estão prestando atenção. É o que concluiu um estudo apresentado no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Para chegar até esse resultado, a pesquisa analisou duplas de cães e tutores para investigar se os animais saberiam identificar sinais sutis de atenção – comparando, por exemplo, situações em que os tutores liam um livro ou olhavam diretamente para eles.
Para isso, foram criadas duas situações nas quais o cão necessitava da colaboração do tutor para ter acesso a um alimento desejado e visível, mas que estava fora de alcance.
Um dos testes, feito com 28 duplas, serviu para analisar como e se os cães demonstrariam a intenção de se comunicar em busca de ajuda; o outro, com 22 duplas, avaliou como o estado de atenção do tutor influenciaria nesse comportamento.
O que se concluiu é que a forma mais frequente de comunicação – a de “mostrar” a comida, alternando os olhares entre ela e o tutor – acontece mais vezes quando existe contato visual entre a pessoa e o animal. Os cães, portanto, seriam capazes de analisar em que situações é mais vantajoso se comunicar dessa forma.
“A comunicação entre o cão e o ser humano pode ter sido um dos principais produtos de milhares de anos de domesticação”, falou a EXAME.com Carine Savalli Redigolo, autora da pesquisa e doutora em Psicologia Experimental pela USP.
Segundo Redigolo, a comunicação visual e a alternância de olhares são os elementos mais característicos dessa relação. “O ambiente também pode potencializar essas habilidades; há cães que são muito estimulados por seus tutores e se mostram muito mais comunicativos do que outros.”
O estudo também colabora para a expansão das pesquisas sobre as origens do comportamento humano, que sempre tiveram como principal modelo comportamental os chimpanzés. “De uns 20 anos para cá, vários grupos de Etologia perceberam que o cão, por ter evoluído diretamente ligado ao ser humano, apresenta habilidades sociais e comunicativas que são até mais parecidas com as nossas do que nossos parentes mais próximos", explica a autora.