Um dos objetivos do novo instituto é centralizar as pesquisas realizadas em quase todas as áreas clínicas e cirúrgicas (Luis Robayo/AFP)
Da Redação
Publicado em 27 de novembro de 2012 às 12h45.
São Paulo - A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo inauguraram, no dia 26 de novembro, o Instituto de Pesquisa da Santa Casa.
O prédio, localizado no centro de São Paulo, tem seis andares, dos quais três são constituídos por laboratórios de última geração em cultura de células, virologia, histologia e bioinformática, construídos e compostos por equipamentos adquiridos em grande parte com apoio da Fapesp.
Um dos objetivos do novo instituto é centralizar as pesquisas realizadas em quase todas as áreas clínicas e cirúrgicas por médicos assistencialistas, professores e estudantes de pós-graduação em laboratórios distribuídos pelos diversos departamentos do Hospital Central e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa. Com isso, se espera aumentar a colaboração entre os pesquisadores da instituição e otimizar os recursos para realização de projetos de pesquisa.
“A Santa Casa conta com diversos pesquisadores que atuam de forma pulverizada na instituição. A abertura da sede do Instituto de Pesquisa irá possibilitar condensá-los em um único local, onde poderão se encontrar e discutir de forma mais intensiva sobre colaborações em projetos de pesquisa”, disse Carlos Alberto Longui, coordenador científico do Instituto de Pesquisa da Santa Casa de São Paulo.
De acordo com Longui, o Instituto de Pesquisa também deverá possibilitar atrair pesquisadores do Brasil e do exterior que desejem realizar suas pesquisas clínicas e básicas na instituição.
Fundada por volta de 1560, a Santa Casa administra o maior hospital filantrópico da América Latina, no qual são atendidos cerca de 8 mil pacientes por dia, muitos do quais portadores de doenças raras que poderão participar de estudos clínicos.
“O Instituto de Pesquisa da Santa Casa deverá despertar o interesse de pesquisadores interessados em estudar doenças raras e que precisam de uma instituição de grande porte para ter a casuística (comparação) necessária para realizar suas pesquisas”, estimou Longui.
Segundo ele, com a inauguração do Instituto de Pesquisa, a expectativa é aumentar em, no mínimo, entre 15% a 20% o número de pesquisas realizadas na instituição em 2013 em comparação com 2012.
Os pesquisadores, médicos assistencialistas e alunos de pós-graduação que tiverem interesse em realizar pesquisas no Instituto deverão apresentar seus projetos para uma coordenadoria científica, que irá alocá-los entre os diferentes setores da instituição.
INCT do HPV
Inicialmente, o Instituto de Pesquisa da Santa Casa abrigará um núcleo metodológico – criado com o objetivo de desenvolver e centralizar os métodos de pesquisa mais utilizados nos projetos realizados na instituição –, além do Instituto de Pesquisa Clínica e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia das Doenças do Papilomavírus Humano (Instituto do HPV).
Um dos INCTs financiados pela Fapesp e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Estado de São Paulo, o Instituto do HPV desenvolve pesquisas, forma recursos humanos e realiza ações de prevenção e de tratamento de infecções e tumores causados pelo vírus HPV, principal causador do câncer de colo de útero e de outros tumores que causam o óbito de cerca de 7 mil mulheres por ano no Brasil.
Fundado em 2009, o INCT-HPV estava abrigado na filial brasileira do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, sediado no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Com o encerramento das atividades do Instituto Ludwig no Brasil, os equipamentos dos laboratórios do INCT foram distribuídos por algumas instituições de pesquisa no Estado de São Paulo, como no Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Com a inauguração do Instituto de Pesquisa da Santa Casa, parte dos equipamentos foi doada e fará parte dos laboratórios da instituição voltados, entre outras finalidades, para realização de testes moleculares, cultivo celular, sequenciamento, análises de células, fluidos humanos e até mesmo de tumores.
“Agora, teremos mais espaço para realizar pesquisas de ponta que conduzimos há décadas”, disse Luisa Lina Villa, coordenadora do INCT-HPV.
Segundo Villa, após terem desenvolvido nos últimos anos uma série de estudos epidemiológicos para conhecer melhor o histórico de infecções e doenças causadas por HPV em mulheres, os pesquisadores do INCT-HPV realizam no Centro de Referência e Tratamento (CRT) de DSTs/Aids, em São Paulo, com apoio dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, um estudo semelhante, com a participação de 4,5 mil homens.
Com base nas comparações entre os históricos de infecções causadas pelo HPV nos dois sexos, os pesquisadores concluíram que eles não escolhem gênero e, apesar de causarem tumores em maior proporção em mulheres, também afetam os homens.
“As iniciativas terapêuticas e de prevenção, que visam em primeiro lugar as mulheres, porque elas padecem mais das doenças causadas por HPV, também devem incluir os homens”, disse Villa.
De acordo com a pesquisadora, o Brasil possui uma importante participação nos estudos para validação de vacinas para proteção dos principais tipos de HPV, que já foram aprovadas no país para mulheres e se discute sua introdução no plano nacional de imunização tendo em vista que surgem 20 mil novos casos de câncer de útero no país por ano, que causam a morte de mais de 7 mil mulheres.
A escolha do Brasil para testar essas vacinas, na opinião dela, deve-se à qualidade das pesquisas realizadas no país na área. “Foram as pesquisas feitas no país que nos colocaram no cenário para testar essas vacinas. No Estado de São Paulo, principalmente pela contribuição da Fapesp, estão algumas da melhores instituições do mundo em pesquisa sobre HPV”, destacou.