Camundongo de laboratório: células-tronco do animal foram usadas para produzir rins (He Yushuai/Southern Metropolis Daily/VCG/Getty Images)
AFP
Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 19h13.
Cientistas disseram que usaram com sucesso células-tronco de camundongos para desenvolver rins em embriões de ratos, usando uma técnica que poderia um dia ajudar a criar rins humanos para transplante.
Mas os pesquisadores advertiram que seu êxito era apenas um primeiro passo e que restam "barreiras técnicas sérias e questões éticas complexas" antes que o processo possa ser usado para órgãos humanos.
A técnica foi usada anteriormente para cultivar pâncreas derivados de camundongos em ratos, mas o novo estudo é a primeira evidência de que pode um dia fornecer uma solução para a enorme escassez de rins de doadores para pessoas com doença renal.
A pesquisa, publicada na quarta-feira na revista científica Nature Communications, começou com o desenvolvimento de um "hospedeiro" adequado no qual os rins poderiam ser cultivados.
Os pesquisadores coletaram estruturas de embriões de ratos geneticamente modificados para que não desenvolvessem rins por conta própria.
Os embriões foram então injetados com células-tronco pluripotentes de camundongos e implantados em úteros de ratos.
As células-tronco pluripotentes são um tipo de célula "mestre" que pode se desenvolver para qualquer uma das células e tecidos que compõem o corpo.
Os pesquisadores descobriram que as células-tronco dos ratos produziam rins aparentemente funcionais nos ratos.
Mas o mesmo não aconteceu quando as células-tronco dos ratos foram injetadas em embriões de camundongos modificados de forma semelhante.
"As células-tronco do rato não se diferenciaram prontamente nos dois principais tipos de células necessárias para a formação dos rins", disse Masumi Hirabayashi, professor associado do Instituto Nacional de Ciências Fisiológicas do Japão, que supervisionou o estudo.
Por outro lado, "células-tronco de camundongos diferenciaram-se eficientemente (...) formando as estruturas básicas de um rim", disse à AFP.
A razão desta diferença ainda não está totalmente clara, mas os pesquisadores acreditam que "estímulos ambientais" dentro dos camundongos provavelmente são os culpados, e não as células-tronco ou a técnica.
Mas mesmo nos embriões de ratos, a técnica não foi isenta de problemas.
Enquanto os ratos desenvolveram rins aparentemente funcionais, inclusive com conexões adequadas com os ureteres - tubos que ligam os rins à bexiga -, eles morreram logo após o nascimento porque não amamentaram adequadamente.
Remover os genes que permitem que os rins se desenvolvam no útero parece ter também removido seu olfato, de modo que os recém-nascidos não conseguiram detectar o leite e morreram.
Suas curtas vidas significaram que testes limitados poderiam ser feitos sobre sua função renal, mas Hirabayashi disse que os órgãos pareciam funcionais "baseados em observações anatômicas".
Há outras preocupações: o crescimento de um rim em um hospedeiro de outra espécie pode levar à "contaminação" do órgão com células do hospedeiro.
E o processo de crescimento de órgãos humanos em animais representa um enigma ético porque as células-tronco humanas podem se transformar em células do cérebro ou de órgãos reprodutivos no hospedeiro.
"As principais preocupações éticas são o risco de consciência e/ou produção de gametas (células reprodutivas)", disse Hirabayashi.
"Existem barreiras técnicas sérias e questões éticas complexas que devem ser discutidas e resolvidas antes de produzir órgãos humanos em animais", acrescentou.
A curto prazo, é provável que pesquisas adicionais enfoquem em formas de modificar geneticamente ratos hospedeiros sem efeitos colaterais letais.
Se bem sucedidos, os pesquisadores vão querer fazer mais testes nos rins derivados de células-tronco, e tentar transplantá-los dos hospedeiros para outros animais.
Eventualmente, os testes podem envolver a tentativa de desenvolver órgãos humanos.