Gatos podem ajudar a desenvolver novos tratamentos para ajudar a combater a covid-19 (Alexander Shcherbak/Getty Images)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 12h58.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 12h58.
Pesquisadores americanos da Universidade da Califórnia estão realizando testes com remédios utilizados em gatos na tentativa de ajudar pessoas infectadas por covid-19.A expectativa dos cientistas é de que as duas drogas experimentais usadas no tratamento de felinos possam ser utilizadas também em humanos que contraíram o vírus SARS-CoV-2.
Os dois remédios pesquisados são utilizados para tratar uma doença quase sempre fatal, e também causada por um coronavírus, que afeta os gatos. Uma das drogas é a GC376, que desativa a enzima protease M, considerada fundamental para o desenvolvimento de alguns tipos de coronavírus e que corta cadeias de proteínas virais.
Outra é a GS-441524 e se trata de um primo antiviral do remdesivir. Ambos tem estrutura química semelhante, mas o remdesivir conta com uma parte adicional em sua composição. Eles imitam o bloco de construção da molécula genética RNA, usado para constituir o material genético do coronavírus e que impede que o vírus seja replicado no organismo.
“Ambas as drogas têm sido altamente eficazes na cura de gatos com peritonite infecciosa felina e, geralmente, sem qualquer outra forma de tratamento”, afirmou Niels Pedersen, veterinário responsável pela pesquisa da Universidade da Califórnia. As drogas ainda aguardam aprovação da Food and Administration, órgão que é uma espécie de Anvisa nos Estados Unidos.
A peritonite infecciosa felina é uma doença que na maioria dos casos não apresenta sintomas, mas faz com que os gastos possam desenvolver doenças graves caso o vírus sofra mutação e infecte células imunológicas. A reação inflamatória pode causar paralisia, acúmulo de líquido nos pulmões e a morte do animal. Por esta razão, o coronavírus felino é semelhante ao covid-19.
Em um estudo realizado em 2016 com o uso das droga GC376 em gatos, seis dos oito participantes da pesquisa se recuperaram da infecção do coronavírus. Os dois gatos que morreram estavam entre os quatro felinos que desenvolveram sintomas graves da doença, como icterícia e febre alta.
Segundo os pesquisadores, de acordo com os resultados obtidos, as drogas também podem interromper a infecção de outros tipos de coronavírus como o SARS e o MERS, que causaram surtos graves no continente africano e na região do Oriente Médio nos últimos anos.
Na Universidade do Arizona, os testes com a GC376 para impedir a protease SARS-CoV-2 apresentaram resultados positivos em tubos de ensaio. Os cientistas esperam também que os resultados em células de macacos cultivadas em laboratório também apresentem resultados semelhantes.
Já as avaliações com a GS-441524 foram feitas em 2019 com 26 gatos e publicadas no Journal of Feline Medicine and Surgery. Deste grupo, 25 felinos tratados durante 12 semanas com a droga sobreviveram. Apesar disso, a GS-441524 não está disponível para o uso em gatos – e em foi aplicada em humanos. A reportagem do site Science News ainda aponta que esta é uma molécula mais complexa de ser fabricada.
A droga também foi usada no surto do ebola entre 2014 e 2016 no oeste africano e entre 2018 e 2020 no Congo, mas não apresentou resultados positivos.