Relógio biológico: "Isso pode acontecer porque os corpos evoluíram para se curar mais rapidamente durante o dia" (iStock/Thinkstock)
EFE
Publicado em 8 de novembro de 2017 às 22h05.
Washington - Um grupo de cientistas estabeleceu uma relação direta entre o conhecido como relógio biológico e a velocidade com a qual o corpo humano é capaz de cicatrizar seus ferimentos, segundo um artigo divulgado nesta quarta-feira pela revista "Science Transational".
De acordo com o estudo, realizado por pesquisadores do Conselho de Pesquisa Médica (MRC) do Laboratório de Biologia Molecular da Universidade de Cambridge (Reino Unido), as células têm uma maior capacidade de regeneração quando os ferimentos se produzem durante o dia.
Os cortes e queimaduras ocorridos durante o dia cicatrizam até 60% mais rápido que aqueles sofridos entre as 20h e as 8h.
"Isso pode acontecer porque os corpos evoluíram para se curar mais rapidamente durante o dia, quando é mais provável acontecer um ferimento", disse um dos autores do estudo, o médico do MRC John O'Neill.
Essa capacidade responderia ao fato de que o relógio biológico, nome com o qual é popularmente conhecido o ritmo circadiano, determina a atividade de praticamente todas as células do corpo humano e a organiza em ciclos de 24 horas.
Durante estes ciclos diários, o corpo humano processa ações vitais, como o sonho, a secreção de hormônios e o funcionamento do metabolismo.
Depois de analisar os relatórios médicos de 118 pacientes com queimaduras, procedentes das principais unidades de queimados da Inglaterra e do País de Gales, e de trabalhar de forma específica com células epidérmicas, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a pele se cura com o dobro de eficiência durante o dia.
Segundo a pesquisa, enquanto 95% dos pacientes que tinham sofrido queimaduras durante o dia se recuperavam num prazo de 17 dias, aqueles que as sofreram durante a noite demoravam até 28 dias.
"A reparação eficiente da nossa pele é crítica para prevenir infecções já que, quando a cura vai mal, as feridas podem se tornar crônicas ou pode acontecer um excesso de cicatrização", apontou o médico Ned Hoyle, também membro do NRC e autor principal do artigo.
Os pesquisadores verificaram que diversas proteínas envolvidas no processo de cicatrização, como a actina, atuavam com maior rapidez durante as horas de luz.
Além disso, puderam observar que nos ferimentos produzidos durante o dia, o organismo depositava mais colágeno, que é a principal proteína estrutural da pele, no ponto afetado, onde permanecia por um período de até duas semanas.
"Levando em conta estes resultados, não só será possível identificar novos objetivos para a pesquisa farmacêutica, mas também melhorar a efetividade de tratamentos já existentes", afirmou John Blaikley, um dos autores do estudo e cientista da Universidade de Manchester (Reino Unido), que colaborou com o projeto.