Poluição em São Paulo: Brasil é um país tido como importante para ajudar no controle das alterações do clima (Brazil Photos/Getty Images)
Desde o Acordo de Paris, firmado em 2015 por 195 nações, incluindo o Brasil, existe a meta de impedir que a temperatura do planeta ganhe 2ºC em relação ao período pré-industrial. A maioria das nações desenvolvidas tem como norte manter a marca de 1,5ºC até 2050. Contudo, o relatório climático State of the Global Climate 2020, que será apresentado pela ONU nesta segunda-feira, 19, apenas três dias antes da Cúpula do Clima, deve colocar um pouco mais de pressa nas ações contra o aquecimento global.
Com a participação de várias agências lideradas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e combinando contribuições de serviços meteorológicos e dezenas de especialistas ao redor do globo, o estudo fornece detalhes abrangentes das mudanças climáticas, medições meteorológicas extremas, atual temperatura terrestre e oceânica, recuo do gelo e aumento do nível do mar. Também inclui informações sobre os impactos da poluição na saúde humana e nos ecossistemas terrestres e marinhos. Tudo aferido no ano em que o desenvolvimento socioeconômico foi atingido pela covid-19.
Atualmente, os cálculos climáticos indicam que já ocorreu um aumento de 1ºC em relação ao período pré-industrial. Se o ritmo lento em que se tenta frear o aquecimento se mantiver, no ano de 2100, por exemplo, a elevação do nível do mar será dez centímetros maior no cenário mais quente — isso representa o deslocamento aproximado de dez milhões de pessoas para dentro dos continentes.
Logo, é evidente que os apontamentos do relatório devem ser levados em conta pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que tem dado atenção especial para a agenda verde. Em campanha para assumir a liderança mundial das ações ambientais, após os EUA perderem protagonismo no governo de Donald Trump, Biden vê a Cúpula do Clima, encontro virtual que ele próprio marcou para os dias 22 e 23 de abril com líderes de outras nações, como uma chance de atualizar promessas em favor do meio ambiente.
O presidente Jair Bolsonaro, convidado visto como chave, enviou uma carta ao mandatário americano onde diz ter a intenção de acabar com o desmatamento ilegal da Amazônia até 2030 e propôs, orientado por seu ministro, Ricardo Salles, um ‘passar de chapéu’ para coletar financiamento de países ricos que apoiam a pauta. No entanto, Biden está reticente em aprovar as doações. Sua gestão considera Bolsonaro pouco confiável e o repasse sem a ação prévia poderia premiar a estratégia de relações públicas do governo brasileiro.
Sem segredos, a tentativa de parecer "mais verde" por parte de Bolsonaro está associada à urgência de não perder o timing para entrar definitivamente na OCDE. Ter na manga o controle do desmatamento seria um item básico caso queira manter o apoio de Washington. Se o governo falhar, pode estragar o clima.