Rockeiro: gosto pelo estilo musical pode depender de nível de testosterona (tommasolizzul/Thinkstock)
Victor Caputo
Publicado em 27 de janeiro de 2018 às 08h00.
Última atualização em 27 de janeiro de 2018 às 08h00.
Eu não te conheço, mas talvez consiga descobrir se você é mais fã de Guns N Roses ou de Marvin Gaye – não vou precisar de nenhuma foto sua; só de uma cópia do seu exame de sangue mais recente. Um novo estudo das universidades de Nagazaki (Japão) e de Trento (Itália) está apontando que o nível de testosterona do seu corpo está intimamente ligado à sua seleção de favoritos do Spotify.
Para conseguirem chegar nessa conclusão, os envolvidos recrutaram 37 homens e 39 mulheres. Todos os voluntários tiveram que cuspir em um potinho (para, posteriormente, fazer uma medição dos níveis de testosterona) e depois sentar em frente a um computador. À máquina estava conectado um fone de ouvido, assim que eles fossem colocados, a tela fazia uma contagem regressiva de três segundos e iniciava um trecho de música.
Coisa rápida, a composição durava apenas 15 segundos. Após a reprodução, uma mensagem aparecia na tela e o voluntário tinha que afirmar o quanto ele havia gostado da música, selecionando um dos 19 níveis de satisfação que iam de “Gostei muito” à “Não gostei nem um pouco”. Cada participante repetiu esse processo 25 vezes.
Os resultados apontaram que, quanto maior o nível de testosterona do participante, maiores as chances dele curtir músicas que tendiam para o rock N roll, e, ao mesmo tempo, não serem tão fãs assim de música clássica e jazz.
A conclusão, porém, só vale para os homens. Entre as voluntárias não foi possível estabelecer nenhum tipo de conexão entre hormônios e partituras. E os pesquisadores arriscam uma resposta do porque. “Nós não controlamos o ciclo menstrual das participantes”, escrevem os responsáveis pelo experimento, na conclusão do estudo. Como durante o mês o corpo da mulher tem diferentes picos de testosterona, o não monitoramento desse fator pode ter impactos diretos em um estudo como esse. “Isso pode ter servido para mascarar as associações entre os níveis de testosterona e o gosto musical”, completam.
A explicação do gosto masculino, no entanto, pode ter relação com os efeitos comportamentais da testosterona. Diversos estudos já fizeram relação do hormônio com atitudes rebeldes e desrespeito à autoridade. Como o rock é associado à transgressão, os cientistas acreditam que os voluntários fazem essa ligação inconscientemente, preferindo o estilo musical.
Os pesquisadores porém admitem que como o estudo foi feito com um número pequeno de participantes – todos japoneses de educação similar – havia uma homogeneidade cultural no passado dos voluntários. Na prática não dá pra saber como o testosterona se relacionaria com um brasileiro ouvindo funk, por exemplo. Não dá nem mesmo para cravar que um carioca ouvindo a mesma música que os participantes japoneses reagiria da mesma forma, mesmo se os níveis de testosterona de ambos fossem idênticos.
“A influência da testosterona na nossa personalidade e gosto musical deveria ser testada e validada em outros diversos ambientes sociais e culturais”, dizem os pesquisadores. Fica a dica para o pesquisador que quiser replicar a ideia durante o nosso carnaval. Até lá, som na caixa.
Este texto foi publicado originalmente no site Superinteressante.