Psiquiatra brasileira Mirian Revers Biasão teve artigo publicado pela Nature (Agência Souk/Divulgação)
Laura Pancini
Publicado em 4 de março de 2022 às 11h20.
A brasileira e doutora Mirian Revers Biasão teve seu estudo científico divulgado na revista Scientific Report, que pertence a Nature, uma das publicações científicas mais importantes do mundo.
A revista publicou o artigo "Computer-aided autism diagnosis based on visual attention models using eye tracking" (em português, “Diagnóstico de autismo pelo computador utilizando o rastreamento ocular baseado em modelos de atenção visual”).
No texto, a especialista analisa o diagnóstico não invasivo com suporte computacional em diferentes níveis funcionais e de idades, podendo ser uma ferramenta para facilitar o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Baisão atua há 11 anos em psiquiatria focada na infância e adolescência, com formação pela Universidade Estadual de Maringá e mestrado pela Universidade de São Paulo (USP). Baisão também foi assistente de pesquisa no KIND-Karolinska Institutet, em Estocolmo, Suécia, e atualmente ministra o "O essencial para compreender o autismo em adultos", voltado a profissionais da saúde e áreas biológicas.
Um dos primeiros sinais do TEA é a falta de contato visual. Crianças no espectro tendem a mostrar essa característica já a partir dos seis meses de idade, independentemente do ambiente cultural em que o sujeito está inserido. Por isso, fazer o uso do rastreamento ocular é uma opção para o diagnóstico – ainda mais por não ser invasivo e ser uma opção para qualquer indivíduo.
Porém, há dificuldades no rastreamento ocular. Ainda é um desafio identificar características relevantes dos vídeos obtidos, especialmente naqueles com TEA. “Não há exames para detectar o autismo, o diagnóstico é clínico. Por isso é fundamental que haja profissionais capacitados para identificar os sinais e sintomas do TEA e o respaldo da tecnologia pode facilitar um diagnóstico certeiro”, disse Biasão.
O artigo de Biasão propõe um método computacional que integra técnicas de inteligência artificial e outros conceitos para aprender um modelo para cada grupo que utiliza o rastreamento ocular em busca de um diagnóstico.
Embora essa abordagem não seja específica do transtorno, ela foi testada no contexto do diagnóstico de TEA, obtendo uma média de precisão, recordação e especificidade de 90%, 69% e 93%, respectivamente.
“O reconhecimento da revista Nature é importante para projetar os avanços que a tecnologia de rastreamento ocular pode trazer aos pacientes", afirma a psiquiatra.