Concepção artística do Oumuamua: viajante espacial veloz e misterioso (European Southern Observatory/M. Kornmesser/Divulgação)
“O universo é um lugar bem grande. Se não existe vida fora da Terra, então é um terrível desperdício de espaço." A frase do astrofísico americano Carl Sagan (1934-1996) rejeitava a ideia de que a Terra seria o único planeta com o privilégio de abrigar animais e plantas.
Sagan não é o único que ponderou sobre as chances do universo ser um ambiente diverso em tipos de vida. No mesmo caminho, a Universidade de Harvard começou o “Projeto Galileo”, que vai analisar dados obtidos em pesquisas e observações astronômicas em busca de “sinais de civilizações tecnológicas extraterrestres vivas ou mortas”.
O Projeto Galileo é liderado por Avi Loeb, professor de ciências do departamento de astronomia de Harvard, e usará um algoritmo que, por meio da inteligência artificial (IA), deve identificar viajantes cósmico, estruturas artificiais longe do sistema solar, e outros fenômenos aéreos não identificados (UAPs, na sigla em inglês).
A iniciativa quer garantir que que não se perca a chance de registrar a passagem dos vizinhos espaciais, caso eles estejam por perto. Um dos objetivos é que não ocorra mais uma situação como a do objeto espacial “Oumuamua”, que passou pela Terra em 2017. Na época, a comunidade científica ficou surpresa com as características do visitante — ele não se parecia com nada que já havíamos visto antes. Infelizmente, ele foi embora antes que pudesse ser analisado mais profundamente, e não se pode cravar com rigor científico o que de fato ele era.
Avi Loeb acredita que o objeto pode ser uma nave de outra civilização. Ainda que ele não tenha tanto crédito entre seus pares, justamente por levantar a hipótese de que alienígenas estão por ai, o Projeto Galileo é ambicioso. Obtendo sucesso ou não, deve contribuir para posicionar os humanos em outro questionamento da ciência: o célebre Paradoxo de Fermi.
Trata-se de uma hipótese laborada em 1950 pelo físico italiano Enrico Fermi (1901-1954). O cientista realizou um cálculo simples, porém revelador. Partindo da ideia de que a Terra seria só mais um entre incontáveis mundos presentes no universo, ele elaborou uma equação baseada em observações do sistema solar.
Assim, chegou à conclusão de que algo como 1% dos planetas que existem cosmo afora poderia abrigar seres vivos. Levando-se em consideração que haja no universo 70 sextilhões de estrelas, isso daria, por estimativas, 100 planetas para cada grão de areia que existe na Terra. Se aquele 1% tiver vida, chega-se à definição de que há um corpo celeste com seres vivos para cada grãozinho de areia. No entanto, nunca topamos com eles: eis o paradoxo.