Ciência

Pesquisadores produzem o primeiro 'nugget' de carne cultivada em laboratório

A equipe de cientistas conseguiu replicar a textura e a estrutura de pedaços maiores de carne, algo que até então parecia inatingível

 (Shoji Takeuchi/Universidade de Tóquio/Divulgação)

(Shoji Takeuchi/Universidade de Tóquio/Divulgação)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 17 de abril de 2025 às 14h27.

Cientistas japoneses anunciaram uma conquista na produção de carne cultivada, ao conseguirem criar pedaços de frango em laboratório, um marco considerado por especialistas como um passo importante para o desenvolvimento de cortes maiores de carne.

Até agora, a técnica de cultivo de carne só havia permitido a criação de pedaços pequenos de células animais, que foram utilizados em produtos como almôndegas de carne de porco. Com a nova abordagem, a equipe japonesa conseguiu replicar a textura e a estrutura de pedaços maiores de carne, algo que até então parecia inatingível.

Avanço técnico e futuro promissor

De acordo com o professor Shoji Takeuchi, da Universidade de Tóquio, principal autor do estudo publicado na revista Trends in Biotechnology, a carne cultivada oferece uma alternativa sustentável e ética à carne convencional.

"Replicar a textura e o sabor da carne de corte inteiro ainda é um desafio. Nossa tecnologia permite a produção de carne estruturada com textura e sabor melhorados", explicou Takeuchi.

A técnica utiliza fibras ocas finas, que imitam vasos sanguíneos, para fornecer oxigênio e nutrientes às células musculares do frango, permitindo que elas cresçam em pedaços de carne de até 2 cm de comprimento e 1 cm de espessura, pesando cerca de 10 gramas.

Essas fibras já são amplamente utilizadas em filtros domésticos de água e máquinas de diálise para pacientes com doenças renais. O feito dos cientistas japoneses representa não apenas um avanço para a produção de carne cultivada, mas também abre portas para a criação de tecidos artificiais e até órgãos completos no futuro.

A aceitação do consumidor e os desafios regulatórios

Embora a ciência tenha avançado rapidamente nos últimos anos, os produtos de carne cultivada ainda não foram autorizados para consumo humano, embora já tenham sido liberados para animais de estimação.

O governo britânico anunciou no ano passado um financiamento de aproximadamente US$ 18,5 milhões, complementado por outros US$ 28,5 milhões de fontes externas, para acelerar a aprovação de produtos de carne cultivada e reduzir os custos elevados de produção. Essa iniciativa visa colocar esses produtos nas prateleiras dos supermercados nos próximos dois anos.

Dr. Rodrigo Amaro-Ledesma, do Imperial College London, chamou a criação de carne cultivada de "um avanço técnico significativo", destacando o crescimento de pedaços de carne de vários centímetros de espessura.

Ele também ressaltou que a chave para o sucesso da carne cultivada será a aceitação do público, já que o setor prefere usar o termo alternative protein (proteína alternativa) em vez de "carne cultivada em laboratório", temendo que o termo desperte repulsa.

Benefícios ambientais e econômicos

A carne cultivada é vista como uma alternativa promissora à carne convencional, com o potencial de reduzir o impacto ambiental, como as emissões de gases de efeito estufa, o uso de terra e água, e a necessidade de abate de animais. Além disso, pode melhorar a segurança alimentar ao eliminar o uso de antibióticos e reduzir o risco de doenças zoonóticas, como explicou Amaro-Ledesma.

A Green Alliance, representada por Lydia Collas, destacou que a inovação na produção de proteínas sustentáveis pode representar uma grande oportunidade para o Reino Unido, graças à sua liderança em biotecnologia e altos padrões de qualidade alimentar e segurança. Segundo pesquisa do grupo, a indústria de carne cultivada poderia gerar US$ 8,4 bilhões anuais para a economia do Reino Unido e criar 25.000 novos empregos até 2035.

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