Ciência

Pesquisadores encontram grupo raro que pode ser chave para cura do HIV

Estudo identificou grupo raro com HIV controlado na República Democrática do Congo, sugerindo que pesquisas adicionais podem descobrir ligações entre a supressão natural do vírus e tratamentos futuros

Pesquisadora científica da Abbott em laboratório (Abbott/Divulgação)

Pesquisadora científica da Abbott em laboratório (Abbott/Divulgação)

LP

Laura Pancini

Publicado em 2 de março de 2021 às 10h30.

Última atualização em 2 de março de 2021 às 12h53.

Desde o início da epidemia global de aids, 76 milhões de pessoas foram infectadas com o HIV e 38 milhões de pessoas vivem atualmente com o vírus. A Abbott, empresa líder global de cuidados para a saúde, anunciou hoje (2) que uma equipe de cientistas encontrou um número excepcionalmente alto de pessoas na República Democrática do Congo (RDC) conhecidas como "controladores de elite do HIV".

Essas pessoas têm teste positivo para anticorpos do HIV, mas contam com uma contagem de carga viral baixa ou não detectável, e sem o uso de antirretrovirais de tratamento. A descoberta inovadora, publicada na revista científica EBioMedicine, pode ajudar os pesquisadores a descobrir tendências biológicas nesta população, podendo levar a avanços nos tratamentos do HIV e potenciais vacinas.

Pesquisadores da Abbott, da Universidade Johns Hopkins, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas da Universidade de Missouri, no Kansas, e da Universidade Protestante do Congo estimaram que a prevalência de "controladores de elite" do HIV, entre os 10.000 participantes analisados no estudo, é de 2,7% a 4,3%, em comparação com 0,1% a 2% de prevalência em todo o mundo.

A nova pesquisa vai estimular estudos adicionais que procuram compreender esta resposta imunológica única. Os resultados do estudo podem aproximar pesquisadores do objetivo de reduzir a disseminação do HIV, descobrindo ligações entre a supressão natural do vírus e futuros tratamentos.

"A descoberta de um grande grupo de controladores de elite do HIV na República Democrática do Congo é significativa, considerando que o HIV é uma condição crônica, de longo prazo e que normalmente avança com o tempo", diz Tom Quinn, diretor do Centro Johns Hopkins para Saúde Global e um dos autores do estudo.

"Antes deste estudo houve casos raros de infecção não progressiva em indivíduos, mas esta alta frequência encontrada é incomum e sugere que há algo interessante acontecendo em um nível fisiológico na República Democrática do Congo que não é aleatório", complementa o coautor.

Com as origens da epidemia de HIV rastreadas até a África Subsaariana, especificamente a República Democrática do Congo, esta região é de interesse específico para a comunidade científica. As novas descobertas dos pesquisadores são uma continuidade dos esforços que levaram à identificação de uma nova cepa de HIV em 2019 pela Abbott. Há mais de 30 anos, a empresa também foi a primeira a desenvolver um teste para HIV, aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration), órgão norte-americano como a Anvisa.

"O trabalho de vigilância global nos mantém à frente das doenças infecciosas emergentes e, neste caso, percebemos que havíamos encontrado algo que poderia ser mais um passo em direção da cura para o HIV", diz Michael Berg, pesquisador associado para pesquisa de doenças infecciosas da Abbott, e um dos autores do estudo. “A comunidade global de pesquisa tem mais trabalho a fazer, mas considerar o que aprendemos com este estudo e compartilhá-lo com os demais pesquisadores nos deixa mais próximos de novos tratamentos que podem eliminar o HIV”.

As amostras de plasma coletadas pelos esforços de vigilância em 1987, de 2001 a 2003 e de 2017 a 2019 na República Democrática do Congo - lar das mais antigas cepas de HIV conhecidas - permitiram aos pesquisadores descartar falsos positivos, vieses do local de coleta, alta diversidade genética e tratamento antirretroviral como causa de contagens virais não detectáveis em 10.457 pacientes de 2017 a 2019.

"Cada nova descoberta sobre o HIV é mais uma peça no quebra-cabeça evolucionário que estamos tentando entender", comenta Carole McArthur, professora do Departamento de Ciências Orais e Craniofaciais da Universidade de Missouri e coautora do estudo. "Cada uma destas peças nos ajuda a ver com um pouco mais de clareza para onde devemos olhar a seguir, além de contribuir para o banco de conhecimento que todos os pesquisadores recorrerão na próxima fase
do nosso trabalho."

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