Ciência

Pesquisadores elaboram novo mapa de ameaça sísmica do Brasil

O objetivo do estudo é apresentar as regiões com maior perigo sísmico no país, definido como a chance de ocorrer vibração no solo causado por um tremor

Um exemplo de abalo foi a série de tremores de magnitude entre 2,01 e 2,55 que ocorreram em Mariana (MG) três dias antes do rompimento da barragem (Ricardo Moraes/Reuters)

Um exemplo de abalo foi a série de tremores de magnitude entre 2,01 e 2,55 que ocorreram em Mariana (MG) três dias antes do rompimento da barragem (Ricardo Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2017 às 10h45.

Última atualização em 21 de julho de 2017 às 10h48.

Pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), em colaboração com colegas das universidades Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, da Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), de Brasília (UnB), do Observatório Nacional e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro, estão elaborando um novo mapa de ameaça sísmica do Brasil.

A versão preliminar do levantamento foi apresentada por Marcelo Sousa de Assumpção, professor do IAG e um dos coordenadores da Rede Sismográfica Brasileira, em palestra sobre tremores de terra no Brasil em palestra na quarta-feira (19/07) durante a 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Com o tema “Inovação – Diversidade – Transformações”, o evento, que ocorre até sábado (22/07) no campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), reúne pesquisadores do Brasil e do exterior e gestores do sistema nacional de ciência e tecnologia.

"A ameaça sísmica no Brasil é relativamente baixa em comparação com outros países da América do Sul, como o Chile e o Peru, porque o país está localizado em uma região estável, de terrenos muito antigos e no interior de placa tectônica", disse Assumpção.

"Mas o Brasil também registra com uma certa frequência tremores de baixa e média intensidade cujas consequências podem ser drásticas dependendo da região onde acontecerem", ponderou o pesquisador, que realiza um Projeto Temático apoiado pela FAPESP .

Um exemplo recente nesse sentido, segundo o pesquisador, foi a série de tremores de magnitude entre 2,01 e 2,55 que ocorreram em Mariana (MG) três dias antes do rompimento da barragem do Fundão, pertencente à Samarco, que resultou no maior desastre ambiental no país.

Apesar da baixa magnitude, o epicentro de um dos tremores, de magnitude 2,5, contudo, foi a um quilômetro da barragem, conforme a própria empresa declarou em um relatório sobre as causas do acidente, elaborado por um comitê internacional de especialistas que reviu todos os aspectos geoctécnicos da barragem.

Uma das conclusões do painel de especialistas foi que, por serem pequenos, tremores dessa magnitude não poderiam causar consequências a estruturas bem construídas e em operação.

"A barragem, entretanto, já estava em um estado frágil e os tremores ocorreram uma hora antes de ela romper", ponderou Assumpção.

Probabilidade de ocorrência

O mapa apresenta as regiões com maior perigo sísmico no país, definido como a chance de ocorrer um certo nível de vibração no solo causado por um tremor.

Para elaborá-lo, os pesquisadores fizeram inicialmente um levantamento dos tremores que ocorreram no Brasil nas últimas décadas a fim de determinar o nível de atividade sísmica de cada região do país.

Segundo dados do levantamento, os eventos sísmicos no Brasil ocorrem com mais frequência no Nordeste (Ceará e Rio Grande do Norte), na região norte de Mato Grosso, no noroeste goiano e na área da Bacia do Pantanal Mato-Grossense.

"Qualquer região, na realidade, é suscetível a tremores de terra. Algumas mais – como Minas Gerais –, e outras menos. Mas ainda não sabemos, exatamente, porque algumas regiões são mais ativas e outras menos", disse Assumpção.

Com base na frequência e magnitude desses tremores, eles estimaram a probabilidade de eles ocorrerem nessas regiões nos próximos anos e o nível de vibração que causariam no solo onde estão situadas construções, como casas, hospitais e comércio, por exemplo, em relação às suas distâncias do epicentro.

Os tremores de magnitude 3, por exemplo, ocorrem com uma frequência média de duas vezes por mês no país. Já os de magnitude 4, como o registrado em Montes Claros (MG), em 2012, duas vezes por ano.

E os de magnitude 5, como o que atingiu a cidade de Itacarambi (MG) em 2007 e causam danos, acontecem uma vez a cada 50 anos, estimaram os pesquisadores.

"Os tremores que ocorreram antes do rompimento da barragem de resíduos da Samarco em Mariana, por exemplo, ocorrem toda hora e só são sentidos quando acontecem próximos de cidades", explicou Assumpção.

"Apesar de pequeno, se um tremor dessa magnitude ocorrer a um quilômetro de onde está uma construção ou no meio de uma cidade, por exemplo, a intensidade dele pode ser alta e causar sérios impactos para a população", afirmou.

Segundo o pesquisador, o Brasil possui uma norma técnica de construção antissísmica, a NBR-15421, denominada "Projeto de Estruturas Resistentes a Sismos", em vigor desde 2006.

A norma, contudo, foi baseada em um mapa de ocorrência de sismos no Brasil que está desatualizado, apontou o pesquisador.

"Acreditamos que o Brasil tem muito mais registros de sismos do que está retratado no mapa no qual se baseou a norma", afirmou.

As construtoras de barragens hidrelétricas são obrigadas a fazer estudos sísmicos para desenvolverem os projetos.

Já no caso das barragens de rejeitos de minérios, muitas mineradoras fazem estudos sísmicos para projetá-las de modo que sejam capazes de suportar tremores de grande intensidade. Mas nem todas fazem isso, ponderou o pesquisador.

"Não havia uma regulamentação que obrigasse as barragens de rejeitos a fazer estudos sísmicos", apontou.

*Conteúdo publicado originalmente no site da Agência Fapesp.

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