A comunicadora científica e microbiologista Natalia Pasternak foi entrevistada pela Nature; a brasileira percebeu um aumento nos ataques online ao falar sobre tratamentos ineficazes contra a covid-19 (Governo de SP/Divulgação)
Laura Pancini
Publicado em 15 de outubro de 2021 às 11h04.
Última atualização em 15 de outubro de 2021 às 11h05.
Uma pesquisa do periódico científico Nature mostrou que, de 321 cientistas e pesquisadores que deram entrevistas sobre o coronavírus, 15% receberam ameaças de morte posteriormente.
Muitos dos pesquisadores falam sobre a pandemia nas redes sociais. Dos 321, 22% receberam ameaças de violência física ou sexual.
Seis participantes chegaram a dizer que foram atacados fisicamente, enquanto alguns outros relataram que o endereço residencial havia sido revelado online, prática criminosa conhecida como doxxing.
Mais de um quarto dos entrevistados dizem que sempre ou geralmente recebem comentários de trolls ou foram pessoalmente atacados depois de falar na mídia sobre a covid-19. 40% deles relatam sofrer emocional ou psicologicamente depois.
Na pesquisa, que entrevistou cientistas de países como Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha, 44% deles afirmam nunca ter contado ao empregador sobre os ataques pessoais sofridos. Dos que fizeram, 80% consideraram o apoio deles "muito" ou "um pouco" favorável.
A relação com jornalistas e a mídia também permanece otimista. 85% afirmam que, apesar do assédio depois, suas experiências em entrevistas foram quase sempre positivas.
“Acho que os cientistas precisam de treinamento sobre como se envolver com a mídia e também sobre o que esperar dos trolls - é apenas uma parte da comunicação digital”, disse um dos entrevistados à Nature.
Para alguns pesquisadores, o assédio é encarado como um "efeito colateral desagradável" de levar informações ao público. Eles também acreditam que é algo totalmente novo e ligado à pandemia do coronavírus.
No Brasil, a comunicadora científica e microbiologista Natalia Pasternak percebeu um aumento nos ataques online ao falar sobre tratamentos ineficazes contra a covid-19, como a hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina.
Os "tratamentos precoces" foram amplamente defendidas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro em conjunto com o Ministério da Saúde, apesar da ineficácia comprovada.
À Nature, Pasternak descreve comentários criticando sua voz e aparência ou falando que ela não era uma cientista de verdade. Os ataques raramente contestavam o conteúdo. Uma vez, um grupo de apoiadores de Bolsonaro tentou processar a cientista por difamação (Pasternak comparou o presidente a uma praga), mas a ação foi julgada improcedente.