Uma mulher chora enquanto leva uma criança a um avião militar para evacuar a área que foi devastada pelo tufão Haiyan em 12 de novembro de 2013 em Leyte, Filipinas (Dondi Tawatao / Stringer/Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 1 de abril de 2017 às 07h41.
Última atualização em 1 de abril de 2017 às 07h41.
São Paulo - Os custos dos desastres naturais e catástrofes climáticas normalmente são traduzidos em perdas de vidas humanas e imensos prejuízos econômicos. Mas, nos últimos anos, os cientistas têm se debruçado sobre um dos efeitos mais perversos e, talvez, mais difíceis de se quantificar: o impactos sobre a saúde mental.
Difíceis de curar, os impactos psicológicos de um desastre natural são como "feridas abertas na mente", e como toda ferida, precisa de tratamento — o que nem sempre acontece.
O alerta vem de um novo relatório divulgado pela Associação Americana de Psicologia intitulado "Saúde Mental e Nosso Clima em Mudança: Impactos, Implicações e Orientação".
Afetados por catástrofes climáticas ou naturais, de enchentes à terremotos, são expostos a inúmeras fontes de sofrimento, que podem vir na forma de trauma e choque devido a lesões pessoais, perda de entes queridos, dano a bens pessoais ou mesmo a perda de meios de subsistência, como um pescador que se vê impossibilitado de acessar o rio de costume por causa do rompimento de uma represa, apenas para citar um exemplo.
O estudo explica que, em um primeiro momento, emoções negativas intensas como terror, raiva e choque podem dominar a resposta das pessoas a um desastre. Com o tempo, esses sentimentos podem eventualmente diminuir, dando lugar a transtornos de estresse pós-traumático.
Como exemplo dos impactos que os desastres naturais podem ter, entre uma amostra de pessoas que vivem em áreas afetadas pelo furacão Katrina em 2005, as taxas de suicídio e de pessoas que já pensaram em tirar a própria vida mais do que duplicaram.
Não para aí. Segundo o relatório, uma em cada seis pessoas apresentou sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e 49 por cento desenvolveram ansiedade ou transtorno de humor, como depressão.
Altos níveis de estresse e ansiedade também estão ligados a efeitos sobre a saúde física, como um sistema imunológico enfraquecido. A preocupação com os impactos reais ou potenciais das mudanças climáticas pode, ainda, levar a problemas relacionados ao estresse, como o abuso de substâncias químicas, como álcool e outras drogas.
Impactos das mudanças climáticas
Há também impactos significativos na saúde mental decorrentes das mudanças climáticas a longo prazo. Eventos extremos afetam a agricultura, a infraestrutura e a habitabilidade de uma região, que por sua vez afetam as ocupações e a qualidade de vida e podem forçar as pessoas a migrarem.
Esses efeitos podem levar à perda de identidade pessoal e profissional, perda de estruturas de apoio social, perda do senso de controle e autonomia, além de alimentar sentimentos de desamparo, medo e fatalismo.
As mudanças climáticas também têm impactos na saúde mental a nível comunitário. Segundo o relatório, as alterações no meio ambiente podem elevar a hostilidade e a agressão entre pessoas e grupos, e contribuir para a perda de identidade social e coesão.
Para comunidades indígenas e outras populações altamente dependentes do ambiente natural, os impactos na saúde mental podem ser ainda piores.
A chave para combater os potenciais efeitos psicológicos negativos da mudança climática, de acordo com o relatório, é a construção de resiliência. Uma recomendação é que os profissionais de saúde orientem as pessoas a se apoiar nas suas redes sociais e mantê-las.
"A capacidade pessoal dos indivíduos para suportar trauma é aumentada quando eles estão conectados a suas redes na vida cotidiana e online", disse o relatório, associando "níveis mais altos de apoio social durante e após os desastres a menores taxas de sofrimento psicológico". Em tempos difíceis, a conexão humana mostra-se mais necessária do que nunca.