Coronavírus: OMS foi criticada por relatório sobre transmissão de covid-19 por pessoas assintomáticas (Getty Images/Getty Images)
Isabela Rovaroto
Publicado em 9 de junho de 2020 às 12h43.
Última atualização em 9 de junho de 2020 às 12h57.
Estudos mostraram que as pessoas que contraíram o novo coronavírus são mais infecciosas quando apresentam os sintomas iniciais, disse Maria van Kerkhove, epidemiologista e líder técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a pandemia, em comunicado divulgado nesta terça-feira.
Ela disse ainda que um subconjunto de pessoas não desenvolve sintomas, mas ainda pode infectar outras pessoas, e até 40% das transmissões podem ocorrer por casos assintomáticos.
Declaração foi feita um dia após a divulgação de um relatório que identificou que os casos de transmissão assintomática são raros e que eles não aumentaram a disseminação do vírus. "É muito raro", disse a epidemiologista e principal técnica da OMS.
Especialistas em doenças transmissíveis questionaram o comentário da organização, dizendo que esta orientação poderia criar problemas à medida que países tentam sair de isolamentos.
"Fiquei bastante surpreso com o comunicado da OMS", disse Liam Smeeth, professor de epidemiologia clínica da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, que acrescentou que não viu os dados nos quais o comunicado de Kerkhove se baseou.
"Vai contra as minhas impressões dos indícios científicos até agora, que apontam que pessoas assintomáticas --que nunca têm sintomas-- e pessoas pré-sintomáticas são uma fonte importante de infecção de outras".
Autoridades da OMS não estavam disponíveis de imediato para comentar o assunto nesta terça-feira. Van Kerkhove deve responder perguntas em uma sessão de uma rede social ainda nesta terça-feira.
Smeeth e outros especialistas disseram que entender os riscos de transmissão entre pessoas com pouco ou nenhum sintoma é crucial agora que governos começam a amenizar as medidas de isolamento que impuseram para tentar reduzir a propagação da pandemia e substituí-las gradualmente pelo rastreamento de caso e por planos de confinamento.
"Isto tem implicações importantes para medidas de rastreamento/detecção/confinamento sendo instituídas em muitos países", disse Babak Javid, consultor de doenças infecciosas dos Hospitais da Universidade de Cambridge.
Alguns especialistas dizem que não é incomum pessoas infectadas não mostrarem sintomas.
Ainda não submetido à comunidade científica, um estudo da Alemanha feito em maio com base em 919 pessoas do distrito de Heinsberg – que teve um dos maiores números de mortos do país – revelou que cerca de um de cada cinco infectados é assintomático, mas os dados que mostram a probabilidade de eles transmitirem a doença são escassos.
Keith Neal, professor de epidemiologia de doenças infecciosas da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, disse que, embora não se saiba com clareza que papel a transmissão assintomática desempenha em novas infecções, o que se sabe é que pessoas com sintomas são responsáveis pela maior parte da disseminação da doença.
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