Vacina: Dasa anunciou união com farmacêutica XX para desenvolver vacina no Brasil (Dado Ruvic/Reuters)
Tamires Vitorio
Publicado em 9 de setembro de 2020 às 12h11.
Última atualização em 9 de setembro de 2020 às 12h16.
O laboratório brasileiro Dasa anunciou nesta quarta-feira, 9, uma parceria com a empresa americana Covaxx para o desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus. Segundo o laboratório, a parceria permitirá que a nova proteção seja testada nas fases 2/3 no Brasil até o final deste ano.
De acordo com Peter Diamandis, cofundador e vice-presidente da Covaxx, a vacina foi capaz de criar anticorpos neutralizantes robustos em testes pré-clínicos realizados com diferentes espécies de animais. "Enquanto o Brasil passa dos 4 milhões de casos, ter uma vacina eficaz é mais importante do que nunca", afirmou Diamandis em uma coletiva de imprensa da qual EXAME participou. Diamandis também afirmou que a produção poderá ser feita em "larga escala" e que a distribuição acontecerá "no Brasil e no mundo".
Os resultados, segundo a Covaxx, já foram apresentados em congressos e um manuscrito está sendo preparado para a publicação em revistas científicas.
A vacina candidata da Covaxx em parceria com a Dasa é baseada em peptídeos, que são cadeias pequenas de aminoácidos sintetizadas em laboratório, ou seja, não contém partículas do vírus. "Estamos muito confiantes nessa vacina e ela é feita para ser segura também em humanos", disse Mei Mei Hu, presidente da Covaxx.
Os testes clínicos, segundo a Dasa, serão realizados em hospitais públicos e privados ao redor do Brasil até o final do ano. O laboratório está, no momento, definindo os protocolos que serão seguidos e como serão distribuídos os testes no país, focando na prevalência do vírus nos estados.
O objetivo é ter os resultados de testes da fase 1 em novembro e começar a encontrar voluntários para as fases seguintes em dezembro --- processo que deve durar de 12 a 24 meses para confirmar a eficácia da proteção.
Também foi realizado um acordo que fará com que as 10 milhões de primeiras doses sejam administradas por aqui, uma vez que a vacina for aprovada pelas agências reguladoras. "Garantimos 10 milhões de doses para Dasa e Mafra para distribuição ao mercado privado brasileiro, após aprovação dos órgãos reguladores. Destinaremos, ainda, outras 50 milhões de doses para o mercado público do país", conta Hu.
Atualmente os testes de fase 1 estão sendo feito com 60 voluntários em Taiwan. A vacina será administrada em duas doses, com uma diferença de 28 dias entre a aplicação delas. Os resultados dessa fase de testes serão publicados já em novembro de 2020.
O anúncio acontece um dia depois de os testes da vacina da universidade britânica de Oxford em parceria com a anglo-sueca AstraZeneca terem sido pausados, inclusive no Brasil, onde a vacina estava sendo testada. Segundo a universidade, o teste clínico parou de acontecer após um voluntário ter apresentado efeitos colaterais graves.
Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.
Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.
Para uma vacina ou medicação ser aprovada e distribuída, ela precisa passar por três fases de testes. A fase 1 é a inicial, quando as empresas tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz, sim, imunidade contra um vírus, já a fase 3 é a última fase do estudo e tenta demonstrar a eficácia da droga.
Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população.
Com isso, as medidas de proteção, como o uso de máscaras, e o distanciamento social ainda precisam ser mantidas. A verdadeira comemoração sobre a criação de uma vacina deve ficar para o futuro, quando soubermos que a imunidade protetora realmente é desenvolvida após a aplicação de uma vacina. Até o momento, nenhuma situação do tipo aconteceu.