Ciência

Nasa pode ter matado seres vivos em Marte durante missão espacial, diz cientista

Astrobiólogo sugere que os experimentos de 1976 da Nasa em Marte podem ter inadvertidamente destruído sinais de vida, se ela realmente existia no planeta vermelho

Publicado em 28 de novembro de 2024 às 13h53.

Última atualização em 29 de novembro de 2024 às 14h00.

A busca por vida em Marte sempre foi um dos maiores desafios da exploração espacial.

No entanto, uma nova teoria proposta pelo astrobiólogo Dirk Schulze-Makuch, da Universidade Técnica de Berlim, sugere que a vida marciana pode ter sido acidentalmente exterminada durante a missão Viking 1, da Nasa, em 1976.

Para o cientista, os experimentos conduzidos pelos robôs da missão podem ter prejudicado organismos que poderiam existir no solo marciano.

Durante a missão histórica, os veículos Viking 1 e 2 realizaram uma série de testes para detectar sinais de vida no planeta vermelho.

Um dos experimentos envolveu a mistura de amostras de solo com água e nutrientes, sob a premissa de que vida em Marte dependeria da presença de água líquida para sobreviver — uma suposição com base na vida terrestre.

Os primeiros resultados indicaram uma reação que parecia sugerir atividade biológica, mas após décadas de debate, os cientistas concluíram que os dados eram um falso positivo.

No entanto, Schulze-Makuch apresenta uma nova interpretação para os eventos de 1976: e se a vida em Marte estivesse adaptada a condições extremamente secas e, ao invés de depender de água líquida, usasse sais para absorver umidade da atmosfera? Esse é o núcleo da hipótese.

Ele compara os possíveis organismos de Marte aos micro-organismos que habitam os locais mais secos da Terra, como o Deserto de Atacama, no Chile, onde certas bactérias conseguem sobreviver em ambientes áridos extraindo água da umidade atmosférica através de sais higroscópicos.

Em artigo publicado na revista Nature, o astrobiólogo sugere que, ao adicionar água em excesso durante os experimentos, a Nasa pode ter matado qualquer forma de vida que existisse no planeta, ao invés de apenas detectá-la.

Ele argumenta que os compostos de sal, como o cloreto de sódio, seriam mais indicados para a detecção de vida microbiana marciana, uma vez que poderiam ser usados para "atrair" água da atmosfera de Marte, permitindo a sobrevivência de organismos microscópicos.

A proposta de Schulze-Makuch desafia a suposição de décadas de que a água líquida é essencial para a vida. "Se esses organismos são capazes de sobreviver em condições hiperaridas, devemos repensar a estratégia de 'seguir a água' usada pela Nasa", afirma o astrobiólogo. Em vez disso, ele propõe que se busquem compostos hidratados e higroscópicos, como os sais, para encontrar vestígios de vida microbiana.

O pesquisador cita um estudo realizado no Deserto de Atacama, onde chuvas intensas mataram até 80% das bactérias nativas da região, pois essas formas de vida não conseguem lidar com grandes quantidades de água de uma vez. Uma situação análoga teria ocorrido durante a missão Viking: a adição de água pode ter sido letal para qualquer vida que estivesse adaptada a um ambiente marciano extremamente seco.

Após quase 50 anos desde os experimentos da Viking, Schulze-Makuch defende a necessidade de uma nova missão de detecção de vida, agora com um conhecimento muito mais profundo sobre as condições de Marte. "É hora de realizar uma missão mais completa e avançada, com métodos de detecção independentes para garantir dados mais confiáveis", afirmou.

Embora ainda seja uma teoria, o debate sobre a vida em Marte está longe de ser resolvido. Em um futuro próximo, novas abordagens científicas poderão oferecer respostas definitivas sobre a presença de vida no planeta vermelho — ou confirmar que a missão Viking foi, de fato, um caso perdido.

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