Viúva: felicidade tardia de mulheres pode se explicar por viuvez (grinvalds/Thinkstock)
Victor Caputo
Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 10h00.
De acordo com um levantamento anual de saúde realizado no Reino Unido, o número de pessoas com doenças mentais está crescendo, e as mulheres são as principais atingidas. Enquanto 21% das mulheres de todos os grupos etários apresentam sinais de doenças mentais, o número entre os homens é de 16%.
E quanto menor a idade, maior a diferença entre os sexos: dos 16 aos 24 anos, 28% delas têm desordens mentais, contra 16% dos homens. Apenas depois dos 85 anos o quadro se inverte: 19% deles demonstram enfermidades psicológica, contra 14% delas.
De acordo com psiquiatras ouvidos pelo site inglês The Times, o bem-estar das mulheres na aposentadoria pode ser explicado pelo fato de que muitas são viúvas aos 85 anos. E, a essa altura da vida, não sentem as pressões habituais que o casamento traz, como a criação dos filhos, os cuidados com o parceiro ou as responsabilidade domésticas.
A pesquisa foi realizada pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS). Os oito mil adultos que participaram do levantamento responderam a um questionário com 12 tópicos para medir características como níveis de felicidade, depressão, qualidade de sono, ansiedade e autoconfiança.
Os resultados foram ranqueados em uma escala de zero a 12 em que a quantidade de pontos de cada um foi proporcional à propensão a ter uma doença mental. Quem marcou mais de quatro foi classificado como “provável distúrbio psicológico ou doença mental” – uma em cada cinco mulheres entraram nessa categoria.
Em uma sociedade desigual, em que as mulheres ganham menos, acumulam funções domésticas, estão expostas à violência conjugal e sofrem uma enorme pressão para se encaixarem em padrões estéticos, a descoberta da infelicidade feminina não foi uma novidade. Nos EUA, por exemplo, são elas que pedem a maior parte dos divórcios.
E o padrão britânico de propensão a doenças mentais não é exceção. A Organização Mundial da Saúde tem um documento que salienta a disparidade de gênero nas enfermidades psicológicas. “Os papéis tradicionais de gênero reforçam a propensão ao enfatizar a passividade, a submissão, a dependência e impõem o dever de assumir o cuidado incessante dos outros”.
Uma pena que a felicidade na oitava década seja uma promessa com algum futuro apenas para as japonesas, as únicas mulheres do mundo com expectativa de viver mais que 85 anos.
Este texto foi publicado originalmente no site da Superinteressante.