Lulas e polvos são bastante afetados pelo aumento da temperatura (Nature, underwater and art photos/Getty Images)
Maria Eduarda Cury
Publicado em 23 de maio de 2019 às 16h49.
Última atualização em 23 de maio de 2019 às 18h35.
São Paulo - Um estudo, publicado no Jornal de Biologia Experimental, demonstrou que os baixos níveis de oxigênio existentes na água podem cegar invertebrados marinhos, como camarões, polvos e lulas. Enquanto a temperatura global aumenta, os níveis de oxigênio presentes na água diminuem. Os invertebrados aquáticos, como animais que necessitam da visão para todas as atividades de importância vital, se tornam incapacitados de viver.
A falta de oxigênio, chamada de hipóxia, já era associada a problemas de visão humana. Foi somente em 2017 que as biólogas Lilian McCormick e Lisa Levin levantaram a hipótese de que isso também poderia afetar organismos marinhos. Para a comprovação da teoria, elas coletaram larvas de diversos animais do Oceano Pacífico, como o polvo-da-califórnia e o caranguejo de atum.
Após a coleta, elas inspecionaram os animais utilizando um aparelho desenhado para observar como as criaturas marinhas respondem à estímulos de visão. O experimento começa com as larvas posicionadas, em nível microscópico, na água do mar com níveis de oxigênio em constante diminuição. Enquanto isso, as larvas estão sendo expostas à luz em uma condição específica para estimular a resposta visual, que é monitorada por eletrodos ligados à retina ocular do animal.
Assim que o nível de oxigênio ficou menor do que o nível geralmente encontrado na superfície do oceano, a visão dos animais diminuiu consideravelmente. A caranguejola e a larva da lula, por exemplo, estavam quase que completamente cegos no momento em que o oxigênio atingiu o seu nível mais baixo - 20% do total existente na superfície.
No entanto, quando os níveis de oxigênio voltaram ao normal, a visão dos animais também retornou. Esse resultado significa que os efeitos da hipóxia nos animais marinhos podem ser temporários.
Para a bióloga Levin, o estudo pode aprimorar o conhecimento sobre o comportamento animal. "Essa pesquisa oferece uma nova compreensão que vai mudar a maneira pela qual interpretamos as respostas do animal para a perda de oxigênio no oceano, e os tipos de estudos de campo que fazemos.", disse para o Instituto de Oceanografia Scripps.
Devido às mudanças climáticas, o oceano perdeu uma quantidade significativa de oxigênio nos últimos 50 anos. Grande parte dessa perda ocorreu devido à poluição dos nutrientes. Isso aumenta taxas de reprodução de algas e, consequentemente, causa o aumento da temperatura.