Furacões: "a latitude na que os ciclones alcançam sua intensidade máxima se deslocou em direção aos polos durante os últimos 35 anos" (Alvin Baez/Reuters)
AFP
Publicado em 6 de setembro de 2017 às 16h11.
Furacões como o Irma, que atingiu o Caribe nesta quarta-feira, se alimentam da energia que os oceanos desprendem e, por isso, com o aumento das temperaturas, os cientistas acreditam que sua intensidade aumentará, mas sua frequência não.
Devido à falta de dados de satélites em escala planetária anteriores a 1970, é impossível saber como a atividade ciclônica evoluiu no século XX. Antes da instalação de um acompanhamento completo por satélite, até mesmo ciclones muito intensos passavam despercebidos se não tocassem terra, por exemplo.
No Atlântico norte, há cerca de 20 anos foi constatado um aumento da frequência dos ciclones, ao contrário de entre 1970 e 1995, segundo Franck Roux, da Universidade Paul-Sebatier de Toulouse (sudoeste da França).
Nesta região, os pesquisadores notaram que a atividade ciclônica segue ciclos de dezenas de anos e consideram que ainda não é possível dizer se o aumento do número de ciclones na zona se deve a uma variabilidade natural ou às mudanças climáticas.
No noroeste do Pacífico houve uma leve diminuição da atividade ciclônica entre 1980 e 2010.
Os modelos informáticos que simulam o clima do século XXI revelam um possível aumento da intensidade dos ciclones (ventos e chuvas), e uma possível redução da sua frequência no planeta.
"Os ciclones com uma intensidade maior são uma das consequências esperadas das mudanças climáticas", explica Valérie Masson-Delmotte, membro do GIEC, grupo de referência sobre o clima em nível mundial.
"Quanto maior a temperatura da água e o nível de umidade, maior pode ser a intensidade do ciclone. E estes dois elementos são mais intensos devido ao aumento do efeito estufa", explica a climatologista. "Consideramos que há 7% de umidade a mais na atmosfera para cada grau de aquecimento", diz.
O aumento do nível dos oceanos é um dos sinais do aquecimento do planeta. Esta subida, variável segundo as regiões do globo, foi em média de 20 cm no século XX e poderia chegar a quase um metro em 2100.
Ao mesmo tempo, os ciclones também produzem ondas que geram marés de tempestade. Os dois efeitos combinados contribuirão para colocar em risco mais populações e construções costeiras.
Vários estudos mostram, segundo o Météo France (serviço meteorológico da França), que "a latitude na que os ciclones alcançam sua intensidade máxima se deslocou em direção aos polos durante os últimos 35 anos, nos dois hemisférios".
Isto poderia estar relacionado com a expansão do cinturão tropical, ou seja, das zonas do equador terrestre onde reina um clima quente e úmido.
"Lugares que estão mais habituados e mais bem preparados para os ciclones poderiam estar menos expostos e outros, menos preparados, poderiam estar mais", segundo James Kossin, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (Noaa).