Proteína criada pela empresa de biotecnologia Calysta: “É muito melhor transformar metano em alimento do que queimá-lo”, disse o CEO (Calysta/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 27 de setembro de 2017 às 17h44.
Última atualização em 27 de setembro de 2017 às 18h10.
Cingapura - Imagine um mundo onde o gás emitido pelos aterros sanitários poderá ser transformado em uma proteína comestível que acabará em seu prato na forma de hambúrguer ou bife.
É o que esperam os cientistas. As empresas Calysta, da Califórnia, e String Bio, da cidade indiana de Bangalore, estão entre as empresas de biotecnologia que descobriram separadamente formas de transformar metano em proteína.
As bactérias encontradas no solo alimentam um líquido que contém o gás, desencadeando um processo de fermentação semelhante ao da produção de cerveja.
Em vez de álcool, proteína é liberada na água, que depois é drenada e transformada em um pó marrom. O produto já está sendo usado em ração animal, o primeiro passo em direção à preparação para o consumo humano.
As duas empresas apostam que seus produtos ajudarão a aliviar a pressão provocada pelo crescimento da população global sobre as terras agrícolas e os oceanos em um momento em que os preços do gás natural são negociados perto do menor patamar em quase duas décadas.
A String Bio, startup que levantou US$ 200.000 em subsídios do governo indiano, e a Calysta, apoiada por investidores como a japonesa Mitsui & Co. e a Cargill, acreditam que as proteínas produzidas com base no metano se tornarão o alimento sustentável do futuro.
“É muito melhor transformar metano em alimento do que queimá-lo”, disse o CEO da Calysta, Alan Shaw, químico que vive em Menlo Park e chefiou os esforços para transformar os resíduos das lavouras em combustíveis em sua empresa anterior.
“Que melhor uso para o metano que transformá-lo em proteína e adicioná-lo ao sistema de alimentação humana, eliminando tanta pressão?”
Os aterros sanitários, as estações de tratamento de esgoto e as fazendas produzem metano naturalmente com a decomposição de matéria orgânica, e o gás pode ser capturado e transportado até uma instalação, disse Ezhil Subbian, cofundadora da String Bio em Bangalore.
Shaw afirma que a quantidade de metano proveniente dessas fontes é pequena demais para alimentar uma grande fábrica de forma econômica no momento, mas que a Calysta está trabalhando para “reduzir a escala” de sua tecnologia. Subbian está otimista de que a String Bio conseguirá construir fábricas usando o biogás metano dentro dos próximos cinco anos.
“Estamos trabalhando em uma maneira de, em essência, ser econômicos, mas em uma escala menor”, disse Shaw. “Não é fácil, mas temos algumas ideias e estamos trabalhando nisso.”
A String Bio ainda busca financiamento de investidores para comercializar sua tecnologia e está produzindo alguns quilos por mês em sua fábrica-piloto em Bangalore. Fornecedores locais entregam latas de metano que são consumidas por bactérias, que fermentam para produzir aglomerados de proteína úmida, posteriormente drenados e enviados a fazendas de criação de aves e peixes para testes.
“A proteína é simplesmente misturada à ração comum para alimentar animais”, disse Subbian, bióloga sintética que trabalhou no desenvolvimento de combustíveis e de produtos químicos baseados em plantas. “Prevejo que vamos purificá-la ainda mais, a tal ponto que ficaria pronta para o consumo humano.”