Asteroide: metal usado na Idade do Bronze pode ter vindo de fora de nosso planeta (NASA/JPL-Caltech/Divulgação)
Victor Caputo
Publicado em 8 de dezembro de 2017 às 17h15.
A descoberta de que o faraó Tutancâmon tinha uma faca vinda diretamente do espaço, no meio do ano passado, pegou a comunidade científica de surpresa. E olha que nem tinha a ver com aliens mercadores fazendo uma visitinha ao Egito Antigo, longe disso.
Antes de a espécie humana dominar a mineração e conseguir extrair ferro da hematita, forma bruta em que o metal é encontrado na natureza, os corpos celestes pareciam a grande fonte desse mineral “exótico”. Para fazer a peixeira personalizada do chefinho, por exemplo, os aprendizes de ferreiro egípcios usaram um pedregulho caído do céu — o Kharga, meteorito que aterrissou na costa egípcia do Mediterrâneo, a 250 quilômetros de Alexandria, e foi identificado nos anos 2000.
Escolher pelos metais alienígenas não tinha a ver com escolha estética, mas sim, com facilidade de produção. Optando pelo material espacial, os egípcios conseguiam driblar a falta de domínio em processos como a fundição — já que o minério vinha quase pronto para uso, ao invés de repousar em pedras de camadas inferiores do solo.
O que uma nova pesquisa indica, no entanto, é que a prática de fazer utensílios com RG espacial não nasceu com a civilização egípcia. Muito pelo contrário. Armas e ferramentas humanas da Idade do Bronze, forjadas milhares de anos antes da queda de Cleópatra, já seguiam essa mesma técnica de fabricação.
Foi na época histórica conhecida como Idade do Bronze que os humanos dominaram a mistura de cobre e estanho que dá nome ao período. O curioso é que, embora fizessem quase tudo com essa liga metálica, resistente e maleável, nossos ancestrais já produziam também suas primeiras peças com ferro, consideradas, à época, como verdadeiras raridades — algo que mudaria somente cerca de 2 mil anos depois, com a Idade do Ferro, em que tudo começaria a teria a cor prateada.
Os artefatos analisados pelo estudo foram produzidos nesse mesmo período, mais precisamente entre 1300 e 3200 a.C. Na lista de exemplos analisados havia peças como uma pulseira feita no Egito, uma adaga produzida na Turquia e um colar e um machado made in Síria — além de objetos chineses variados e artigos da própria tumba de Tutancâmon.
Utilizando imagens de um espectrômetro de fluorescência de raios-x, equipamento que usa ondas eletromagnéticas para perturbar elementos químicos e, assim, determinar sua composição, os pesquisadores procuravam por sinais de níquel e cobalto — metais que poderiam mais facilmente acusar a origem extraterrestre. A comparação com amostras de ferro terrestre acusou a origem na hora: o material ferroso presente nos artefatos, na verdade, também teria vindo do espaço.
“Nossos resultados complementam análises profundas de outros estudos, que sugerem que a maioria do ferro da Idade do Bronze é derivado de meteoritos”, comenta Albert Jambon, autor da pesquisa. “O próximo passo é determinar quando e onde esse tipo de metal apareceu pela primeira vez”.
O estudo foi publicado no periódico Journal of Archaelogical Science.
Teste texto foi publicado originalmente no site da Superinteressante.