Ciência

Médicos salvam vida de mulher ao mantê-la sem pulmões por 6 dias

É a primeira vez que um procedimento deste tipo é realizado

Melissa Benoit: “Levei um tempo para perceber o que aconteceu." (UHN/Divulgação)

Melissa Benoit: “Levei um tempo para perceber o que aconteceu." (UHN/Divulgação)

Marina Demartini

Marina Demartini

Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 18h07.

São Paulo – Médicos canadenses realizaram um feito que nunca havia sido registrado pela medicina até então. Eles removeram os dois pulmões de uma paciente e conseguiram mantê-la viva por seis dias para que recebesse um transplante do órgão.

A medida foi tomada depois que o corpo da paciente, Melissa Benoit, parou de responder aos antibióticos. A mulher de 32 anos, que tem fibrose cística – uma doença genética rara e sem cura – foi internada no Hospital Geral de Toronto, no Canadá, com uma grave infecção nos pulmões.

Os médicos a sedaram e a colocaram em um dispositivo temporário de suporte à vida. No entanto, logo a bactéria tornou-se resistente aos medicamentos e começou a atacar o corpo com ainda mais força. A pressão arterial começou a cair e os órgãos entraram em falência. Assim, a única maneira de eliminar a fonte bacteriana, segundo os médicos, era retirando os pulmões.

“Foi uma discussão difícil, pois estávamos falando de algo que nunca tinha sido feito antes e havia muitas incógnitas”, disse Niall Ferguson da University Health Network, autoridade de saúde responsável pelo Hospital, em entrevista coletiva reportada pelo jornal The Guardian.

A cirurgia preocupava os médicos devido a uma série de fatores. Um deles era o risco de sangramento na cavidade vazia do tórax. Já o outro era se a pressão sanguínea e os níveis de oxigênio iriam se manter estáveis após a remoção dos pulmões.

Com o consentimento da família, em abril, uma equipe de 13 médicos iniciou a cirurgia de retirada dos pulmões de Benoit. A operação durou nove horas e, segundo um dos cirurgiões, os pulmões estavam tão duros e inchados que pareciam bolas de futebol americano.

O procedimento deu tão certo que, 20 minutos após a retirada do órgão, a pressão arterial da paciente voltou ao normal. Com isso, os médicos puderam retirar muitos dos remédios que mantinham Benoit viva. Eles a deixaram ligada apenas a um pulmão artificial e às bombas que realizavam a circulação sanguínea.

Ninguém sabia quanto tempo os médicos poderiam mantê-la nessa situação. Felizmente, apenas seis dias após a cirurgia, um par de pulmões foi doado para Benoit. Em seguida, ela passou por um transplante que, até agora, se mostrou bem-sucedido.

Quando a canadense acordou após três meses de internação, ela não acreditou que havia passado por uma cirurgia tão dramática. “Levei um tempo para perceber o que aconteceu. Eu simplesmente não consegui acreditar”, contou Benoit na conferência.

Apesar de a paciente já ter passado pelo pior, ela ainda precisa de um transplante de rim, já que seus dois pararam de funcionar após a infecção generalizada. Ela espera receber um dos rins de sua mãe nos próximos meses.

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