Ciência

Mackenzie abre núcleo de estudos que contesta teoria da evolução

O Núcleo Discovery-Mackenzie tem como objetivo promover os estudos de fé, ciência e sociedade

Discovery-Mackenzie: o centro foi criado em parceria com o Discovery Institute (Mackenzie/Divulgação)

Discovery-Mackenzie: o centro foi criado em parceria com o Discovery Institute (Mackenzie/Divulgação)

Marina Demartini

Marina Demartini

Publicado em 11 de maio de 2017 às 05h55.

Última atualização em 11 de maio de 2017 às 12h43.

São Paulo – A Universidade Presbiteriana Mackenzie abriu um novo espaço para que professores e alunos discutam a origem da vida e questionem uma das principais teorias da biologia: o evolucionismo. O chamado Núcleo Discovery-Mackenzie é uma parceria entre a instituição brasileira e o Discovery Institute, um instituto americano que promove o estudo da Teoria do Design Inteligente (TDI).

Para os estudiosos do TDI, certas características do universo e dos seres vivos são tão complexas que só podem ser explicadas por uma causa inteligente. Assim, células e moléculas precisaram passar pela intervenção de algum tipo de inteligência para existir “e não por um processo não direcionado, como a seleção natural”, como aponta o site oficial do Discovery Institute.

A seleção natural é um dos mecanismos básicos da teoria da evolução proposta por Charles Darwin em seu livro A Origem das Espécies, de 1859. Segundo ela, indivíduos melhores adaptados à determinada condição ecológica têm mais chance de sobreviver e deixar descendentes.

Até hoje, a teoria da evolução é uma das mais aceitas entre os membros da comunidade científica para explicar a origem da vida e a evolução humana. Além disso, ela é amplamente ensinada em escolas de diversas partes do mundo.

O Discovery Institute, aliás, já tentou colocar o TDI dentro da grade de escolas públicas dos EUA. Um dos casos mais conhecidos é o de Kitzmiller contra o Distrito Escolar da área de Dover, na Pensilvânia, em 2005. Na época, o distrito mudou seu currículo de ensino da matéria de biologia para exigir que o TDI fosse apresentado como alternativa ao evolucionismo.

Onze pais de alunos da região processaram o distrito sob a alegação de que o design inteligente não passava de um tipo de criacionismo (crença religiosa de que os seres vivos foram criados por um ser superior).

O juiz John E. Jones III chegou ao veredito de que o ensino do design inteligente viola a Cláusula de Estabelecimento da Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos. Segundo ele, o TDI não é ciência e "não pode desacoplar-se do seu criacionista, portanto religioso, antecedente".

O teólogo e pastor presbiteriano Davi Charles Gomes, chanceler da universidade, ressalta em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que o Núcleo Discovery-Mackenzie não é um espaço de TDI, mas de estudos de fé, ciência e sociedade. “Nossa instituição é confessional, o que significa que ela tem uma visão segundo a qual o mundo tem um significado transcendente. E não existe ciência que, no fundo, não reflita também sobre coisas transcendentes.”

Quem faz afirmação parecida é Marcos Eberlin, presidente executivo da Sociedade Brasileira do Design Inteligente e futuro coordenador do núcleo da Mackenzie. “Tem gente que acha que o design vem dos ETs, outros falam de um Grande Arquiteto do Universo, como os maçons, ou um espírito evoluído, como os espíritas”, disse em entrevista à Folha.

Já Maria Cátira Bortolini, geneticista da UFRGS, disse ao jornal que a teoria descarta evidências, fatos e provas científicas. "O que importa é a narrativa, construída de forma que se coadune com a ideologia ou a crença do sujeito."

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