Lago mortal: a água não é a mesma do oceano: a salinidade, a toxicidade e até a cor das duas é diferente (YouTube/Reprodução)
Marina Demartini
Publicado em 6 de novembro de 2016 às 13h39.
Última atualização em 6 de novembro de 2016 às 13h44.
Existe um mundo inóspito, escuro, com formas de vida totalmente esquisitas – e que mata, de forma terrível e dolorosa, qualquer criatura que ouse entrar ali. Não, não estamos falando de um planeta alienígena: esse lugar fica bem aqui, na Terra, alojado no fundo do Golfo do México. Apelidado carinhosamente de “Jacuzzi do Desespero” pelos pesquisadores que o encontraram, o local é um lago de água salgada e tóxica, que fica no assoalho marinho e que realmente parece ser um cenário extraterrestre.
É difícil imaginar um lago dentro do oceano, mas pense assim: se você mergulhasse naquela região, a mil metros de profundidade, veria, no fundo do mar, um buraco de 30 m de diâmetro, onde dá para notar que há água. Exatamente como é um lago na superfície. Só que a água desse buraco não é a mesma do oceano: a salinidade, a toxicidade e até a cor das duas é diferente (a do lago é mais esbranquiçada; a do mar é esverdeada).
Parece cenário do filme Alien ou de Star Wars, né? Mas é real: oceano e lago não se misturam. Primeiro porque o lago é cinco vezes mais salgado do que as águas que o cercam, e segundo porque o poço tem um monte de metano e sulfeto de hidrogênio – a diferença nas concentrações de substâncias entre as águas é o que as impede de se misturar.
O resultado é um poço da morte claramente visível, de 3,65 m de profundidade, tóxico para quase qualquer animal que, por acidente, cair ali. Prova disso é que o “lago” está cheio de carcaças de caranguejos, anfípodes e até de alguns peixes. As únicas formas de vida que conseguem habitar esse mundo bizarro são algumas bactérias, vermes oceânicos e certos tipos de camarões.
O lago mortal foi encontrado por um grupo de biólogos da Temple University em 2014, enquanto eles exploravam a região usando um robô-submarino com câmeras chamado Hércules. Na época, os cientistas não faziam ideia do que tinham encontrado: eles apenas perceberam que havia alguma coisa estranha por ali. Aí, um ano depois, os pesquisadores meteram a mão na massa e foram eles mesmos, num submarino, averiguar a piscina maléfica. O buraco é tão embaixo que levou uma hora para o submarino descer até lá.
Estudando o lago submerso, os cientistas descobriram que ele começou a se formar há milhões de anos, quando as águas do oceano começaram a penetrar em pequenas fendas no assoalho marinho. Isso fez com que elas se misturassem com as formações salinas do fundo do mar e ficassem extremamente salgadas. Daí, essas águas foram forçadas para cima pelo gás metano que fica lá no fundo – só que como elas eram muito mais densas do que o oceano, acabaram ficando “presas” no fundo, formando uma piscina. Milhares de anos depois, o resultado foi o tal lago tóxico.
A gente brincou que o poço lembra um mundo alienígena, mas é exatamente por isso que os cientistas se interessaram tanto por ele: os caras querem usá-lo como modelo para entender como algumas formas de vida sobrevivem em ambientes tão extremos – e compreender isso significa chegar mais perto de descobrir como pode ser a vida fora da Terra.
Assista os cientistas desvendando esse mundo alienígena terrestre:
Texto publicado originalmente na Superinteressante