Ciência

Johnson & Johnson vai parar de vender opioides nos Estados Unidos

Acusada de alimentar crise de saúde nos EUA, J&J fecha acordo de US$ 230 milhões e vai parar produção e venda de medicamentos opioides no país

 (David Benito/Getty Images)

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AFP

Publicado em 26 de junho de 2021 às 16h32.

O grupo farmacêutico Johnson & Johnson, um dos laboratórios acusados de alimentar a crise de opioides que provocou milhares de mortes nos Estados Unidos, vai parar de produzir e vender estas substâncias após um acordo de 230 milhões de dólares com o estado de Nova York.

A procuradora-geral do estado, Letitia James, anunciou em um comunicado que o acordo permite à Johnson & Johnson (J&J) resolver os litígios por "seu papel em ajudar a abastecer a epidemia de opioides". A empresa vai dividir o pagamento ao longo de nove anos e também pode pagar 30 milhões de dólares adicionais no primeiro ano caso o estado aprove uma lei para criar um fundo contra os opioides.

A J&J afirmou em outro comunicado que o acordo "não constitui uma admissão de responsabilidade ou de infração por parte da empresa", e que permite evitar um julgamento que estava previsto para começar na segunda-feira.

O laboratório, entretanto, ainda enfrenta outros processos judiciais no país, incluindo um julgamento em curso na Califórnia. "A epidemia de opioides tem provocado estragos em muitas comunidades do estado de Nova York e do restante do país, deixando milhões de pessoas ainda viciadas nos perigosos e fatais opioides", afirmou Letitia James no comunicado.

"A Johnson & Johnson ajudou a alimentar este incêndio, mas se compromete a deixar o negócio de opioides - não apenas em Nova York, mas em todo o país", acrescentou. Isso inclui tanto a fabricação como a venda de opioides, segundo o documento.

Os 230 milhões de dólares serão destinados aos esforços de prevenção, tratamento e conscientização sobre os perigos das substâncias no estado de Nova York.

Johnson & Johnson, Purdue e outras farmacêuticas e distribuidoras são acusadas de estimular os médicos a receitar opioides - inicialmente reservados para pacientes com casos graves de câncer -, mesmo sabendo que eram muito viciantes.

Desde 1999, essa dependência tem levado muitos consumidores dos medicamentos a doses cada vez maiores e a adquirir substâncias ilícitas como a heroína ou o fentanil, um opiáceo sintético extremamente potente com alto risco de overdose fatal. Quase 500 mil pessoas morreram por overdose de drogas nos Estados Unidos desde então.

Os Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDCs), a principal agência de saúde pública do país, consideram que 90 mil pessoas morreram por overdose de drogas em 2020, a maioria delas por opioides.

 

O Departamento de Saúde dos Estados Unidos calcula que a crise foi responsável por quatro anos seguidos de queda na expectativa de vida dos cidadãos do país, em 2014, 2015, 2016 e 2017. A crise disparou a ponto do ex-presidente Donald Trump ter declarado "emergência nacional de saúde pública" em outubro de 2017.

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Os CDCs avaliaram em 2019 que a "carga econômica" da crise, incluindo os custos de atendimento médico, a perda de produtividade e os custos do sistema de justiça penal alcançava 78,5 bilhões de dólares por ano. Um estudo publicado pela Sociedade Americana de Atuários calculou o custo para o período 2015-2018 em 631 bilhões de dólares.

Em fevereiro, a consultoria McKinsey anunciou que aceitou pagar 573 milhões de dólares para resolver os processos iniciados por quase 40 estados americanos, que acusavam a empresa de ter contribuído para a crise dos opioides por sua assessoria a grupos farmacêuticos, entre eles a Purdue Pharma, fabricante do Oxycontin.

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