Instituto Butantan: dois estudos piloto com o uso de plasma convalescente para tratar pacientes com covid-19 estão sendo realizados pelo Instituto em parceria a prefeitura de Santos e de Araraquara (Sergei KarpukhinTASS/Getty Images)
André Martins
Publicado em 28 de abril de 2021 às 15h38.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 15h53.
O Instituto Butantan está recrutando pessoas que já tiveram covid-19 para doar "plasma convalescente", a parte líquida do sangue rica em anticorpos neutralizantes, para ajudar no tratamento de pacientes com a doença.
Batizada de "imunização passiva", a ideia de tratamento com plasma não é nova. Já foi testada antes contra a difteria em 1892 e depois na pandemia de gripe espanhola, em 1918. Mais recentemente, a estratégia também foi usada na epidemia de SARS, em 2002, e em casos de varicela zoster.
O plasma convalescente pode ajudar a combater a covid-19 enquanto o organismo do paciente desenvolve seus próprios anticorpos. Ele contribui para acelerar o processo natural do corpo, conforme as diretrizes estabelecidas pela Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia.
“O plasma atua como coadjuvante no tratamento, já que não temos tratamento. O que temos de recurso é distanciamento, máscara e vacina”, explica Maria Angélica, médica da Colsan, um dos hemocentros parceiros do Butantan na coleta da substância.
O plasma convalescente é indicado para quem apresenta sintomas há, no máximo, 72 horas, e tem diagnóstico confirmado por exames. O publico alvo do tratamento são pessoas imunossuprimidas, com comorbidades e maiores de 60 anos que foram diagnósticas com a doença.
Dois estudos piloto com o uso de plasma convalescente para tratar pacientes com covid-19 estão sendo realizados pelo Instituto em parceria a prefeitura de Santos e de Araraquara. Em Araraquara, já estão prontas a estrutura e o fluxograma para o início do projeto, que acontece em parceria com a Unimed e a Unesp local.
Segundo a Anvisa, os estudos sobre a eficácia do uso da terapia com plasma convalescente em pacientes com covid-19 são preliminares. Mas desde o ano passado diversos trabalhos científicos sugerem potencial benefício do tratamento, principalmente quando aplicado em fases iniciais da infecção, em pacientes hospitalizados e não entubados.
A agência autorizou os testes com plasmas em abril de 2020. Na última segunda-feira, 26, atualizou as recomendações sobre a terapia e liberou que indivíduos vacinados contra a doença realizem doação.
Em agosto de 2020, os Estados Unidos autorizaram o uso emergencial do plasma convalescente de pacientes recuperados da covid-19 como tratamento contra a doença.
Para a coleta do material, uma das técnicas utilizadas é a plasmaférese, que coleta o sangue, extrai o plasma convalescente em uma máquina e depois devolve ao doador as hemácias e elementos figurados, como plaquetas.
O processo demora cerca de uma hora, desde a triagem -- que é a mesma de uma doação de sangue normal--, a aferição de temperatura e pressão, a avaliação do acesso venoso e a coleta em si, que leva em torno de 40 minutos. Na plasmaférese usa-se somente um braço, tanto para tirar o sangue, que é centrifugado na máquina para retirar o plasma, quando para devolver ao doador os componentes que não serão usados.
“A vantagem é que conseguimos coletar um volume maior de plasma e devolver todas as hemácias, diferente de uma doação de sangue normal, em que tudo é retirado. Isso impede a pessoa de doar plasma novamente em pouco tempo por conta da perda de glóbulos vermelhos”, contou Maria Angélica.
Além da plasmaférese, também existe a doação de plasma por meio da doação de sangue normal. Neste caso, as hemácias e elementos figurados são descartados.
A doação do plasma só pode ser feita por quem já teve a covid-19. Apenas homens podem se voluntariar para doar o plasma convalescente porque durante a gestação a mulher libera anticorpos na corrente sanguínea que podem causar uma reação grave chamada TRALI (transfusion-related acute lung injury) em que recebe a transfusão.
As regras para doar plasma são as mesmas seguidas para doar sangue: estar em boas condições de saúde, ter entre 16 e 69 anos, pesar no mínimo 50 kg, evitar alimentação gordurosa antes da doação e apresentar documento original com foto. Se além de ter sido diagnosticado com covid o doador já tiver sido vacinado, melhor ainda: os anticorpos são reforçados pela imunização.
Os endereços dos hemocentros que estão colhendo as doações do plasma estão no site do Instituto Butantan. Mais informações sobre a doação também podem ser encontradas no site da campanha do plasma.