Antibióticos: cientistas descobrem molécula poderosa utilizando método de inteligência artificial (MR.Cole_Photographer/Getty Images)
Maria Eduarda Cury
Publicado em 23 de fevereiro de 2020 às 09h00.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2020 às 09h00.
São Paulo - Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, conseguiu utilizar a inteligência artificial para descobrir um novo antibiótico. Feito com aprendizado de máquina, o medicamento é capaz de matar até superbactérias - seres que são identificados por serem resistentes até aos remédios mais fortes.
O algoritmo pensado pelos pesquisadores foi utilizado para procurar, em um arquivo virtual com mais de 100 milhões de compostos químicos, aquele que conseguiu matar bactérias e superbactérias utilizando meios divergentes dos medicamentos que já existem no mercado. Publicado na revista Cell, o texto revela que a molécula descoberta recebeu o nome de halicin - que é uma referência para o sistema de AI que aparece no filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick.
A molécula, que foi testada em ratos, se provou capaz de atuar como um antibiótico para doenças como tuberculose, além de matar bactérias da família Enterobacteriaceae - que inclui as bactérias do gênero Salmonella -. O medicamento também é eficaz contra a bactéria Clostridium difficile, microrganismo resistente a tratamentos e responsável por infecções sanguíneas e problemas no pulmão.
James Collins, um dos autores do estudo e professor do Instituto de Engenharia e Ciência Médica (IMES), disse em comunicado que acredita que a nova molécula pode ser classificada com um dos antibióticos mais poderosos até então.
Já Roy Kishony, professor de biologia do Instituto de Tecnologia de Israel acredita que o trabalho pode mudar a forma como cientistas procuram por novos remédios: "Este trabalho inovador significa uma mudança de paradigma na descoberta de antibióticos e, de fato, na descoberta de medicamentos em geral", adicionou o professor.
Após o teste da molécula em animais, a equipe de pesquisadores utilizou o algoritmo para identificar, em seu banco de dados, novos conjuntos de átomos que poderiam se tornar antibióticos. Em apenas três dias, o sistema de AI conseguiu identificar 23 candidatos com estruturas não semelhantes aos antibióticos já existentes.
Feitos os testes, foi comprovado que mais oito moléculas se encaixavam nos requisitos e duas delas poderiam se tornar, juntamente com a halicin, antibióticos poderosos. O estudo, ainda que esteja em fase inicial, ajuda a ter uma dimensão de como os pesquisadores podem se beneficiar da tecnologia para avançar o desenvolvimento de tratamentos e aumentar a quantidade de antibióticos para diversos problemas.