O estudo, que está sendo revisado para publicação em uma revista científica, é o primeiro no mundo a confirmar a co-infecção por duas linhagens do coronavírus ao mesmo tempo (Getty Images/Getty Images)
Reuters
Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 16h37.
Última atualização em 27 de janeiro de 2021 às 16h38.
Pesquisadores brasileiros encontraram no Rio Grande do Sul dois casos de infecção dupla de covid-19, em que os pacientes, ambos com cerca de 30 anos, foram infectados ao mesmo tempo com duas linhagens diferentes do novo coronavírus ao mesmo tempo.
O estudo, que está sendo revisado para publicação em uma revista científica, é o primeiro no mundo a confirmar a co-infecção por duas linhagens do coronavírus ao mesmo tempo. Segundo o coordenador do estudo, o virologista Felipe Spilki, da Universidade Feevale, do Rio Grande do Sul, uma outra pesquisa já havia demonstrado essa possibilidade que agora foi comprovada pelo estudo brasileiro.
Os pesquisadores confirmaram que em dois casos os pacientes foram contaminados no final de novembro pela linhagem P2 do coronavírus, descoberta no Rio de Janeiro, e, ao mesmo tempo por uma segunda linhagem, diferente em cada um deles.
Em um dos casos, o homem declarou tosse seca. No outro caso, tosse, dor de garganta e dor de cabeça como sintomas principais. Em ambos os casos, os pacientes tiveram sintomas leves a moderados e não precisaram de internação hospitalar.
Apesar de não ter causado problemas maiores aos doentes, a co-infecção traz várias preocupações aos cientistas, explica Spilki. Uma delas é o fato de duas linhagens diferentes do vírus estarem convivendo ao mesmo tempo no mesmo organismo, o que pode facilitar e acelerar novas mutações.
"Essas co-infecções podem gerar combinações e gerar novas variantes ainda mais rapidamente do que vem acontecendo", explica. "Seria uma outra via evolutiva do vírus."
As mutações no novo coronavírus têm preocupado os cientistas por trazerem riscos de maior contágio e, possivelmente, até de evitarem que as vacinas funcionem --o que até agora não ocorreu. A variante P2, encontrada nos dois pacientes é, até o momento, a que revelou uma mutação na proteína central do vírus e que pode trazer problemas na imunização, mas isso ainda não foi certificado.
Outras mutações, no entanto, deixaram o vírus mais contagioso. Isso aconteceu com variantes encontradas no Reino Unido e também em Manaus.
Outra preocupação revelada pela pesquisa é que a co-infecção mostra que a quantidade de vírus circulando no Brasil é tão grande que permitiu a uma mesma pessoa ter contato com duas variantes em poucos dias.
"Esse tipo de evento só vai ocorrer em alta circulação e com diferentes vírus circulando em alta quantidade. Isso aconteceu em final de fevereiro quando aqui no Sul houve uma elevação muito importante no número de casos", disse Spilki. "Isso reforça a necessidade do cuidado, mesmo com a pessoa doente, não apenas para não infectar os outros mas para não se reinfectar ou co-infectar."
Os pesquisadores ainda detectaram durante o estudo uma nova variante gaúcha do coronavírus. A mesma linhagem foi encontrada depois em São Paulo, mas com registro posterior ao do Rio Grande do Sul.
Também nesta semana o governo de São Paulo confirmou que foram encontrados três casos de Covid-19 no Estado causados pela variante surgida em Manaus, que tem indícios de ser altamente contagiosa.
Em nota, o governo paulista informou que a confirmação foi feita por meio de sequenciamento genético realizado pelo Instituto Adolfo Lutz.
"O vírus foi sequenciado a partir de amostras com resultados positivos de exames processados pelo Centro de Virologia de três pessoas que tiveram Covid-19 e passaram por atendimento em serviços da rede pública de saúde em São Paulo, com histórico de viagem ou residência em Manaus", diz o texto.