Iceberg: não há evidências suficientes para ligar o fato às mudanças climáticas globais (Pete Bucktrout/AFP/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de junho de 2017 às 19h38.
São Paulo - Um iceberg gigante, quase do tamanho do Distrito Federal, poderá se formar em breve, a partir do desprendimento de uma plataforma de gelo na Antártica, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas do País de Gales, no Reino Unido.
De acordo com o estudo, uma rachadura na plataforma de gelo Larsen C cresceu 17 quilômetros nos últimos dias, formando uma fenda de mais de 130 quilômetros de extensão, com cerca de 100 metros de largura e 500 metros de profundidade.
Se a fenda aumentar mais 13 quilômetros - o que deverá acontecer em breve, segundo os cientistas -, a plataforma se descolará totalmente do continente, formando um dos maiores icebergs já registrados no mundo, com 5 mil quilômetros quadrados de área.
A descoberta, divulgada nesta sexta-feira, 2, foi feita a partir da análise dos últimos dados de satélites sobre a plataforma Larsen C, que tem sido continuamente monitorada por pesquisadores do Projeto Midas, da Universidade de Swansea (País de Gales).
"No maior salto desde janeiro, a fenda na plataforma de gelo Larsen C cresceu mais 17 quilômetros entre 25 de maio e 31 de maio deste ano. Isso moveu a ponta da fenda para apenas 13 quilômetros até o limite da plataforma, que provocará seu desprendimento, formando um dos maiores icebergs já registrados", disse o diretor do Projeto Midas, Adrian Luckman.
Além de avançar rapidamente, a fenda também fez uma curva em direção ao limite da plataforma, indicando que a ruptura está provavelmente muito próxima.
"A fenda agora entrou completamente na zona de gelo macio que se origina na Península Cole e parece haver muito pouco a fazer para evitar que o iceberg se separe completamente", disse Luckman.
De acordo com os pesquisadores, a perda de uma área tão grande de gelo deixará toda a plataforma mais vulneráveis a futuras rupturas.
A Larsen C tem aproximadamente 350 metros de espessura e flutua no mar nos limites da Antártica Ocidental, contendo o fluxo das geleiras que a alimentam.
"Quando se desprender, a plataforma de gelo Larsen C perderá mais de 10% de sua área, deixando seus limites na posição mais retraída já registrada. Esse evento mudará completamente a paisagem na Península Antártica", afirmou Luckman.
De acordo com o cientista, o grupo já mostrou que a nova configuração será menos estável que a existente antes da abertura da fenda.
Com isso, a Larsen C poderá ter o mesmo destino de outra plataforma de gelo vizinha, a Larsen B, que se desintegrou em 2002 após um evento semelhante induzido por uma fenda.
Os cientistas afirmam que não há evidências suficientes para ligar o crescimento da fenda - e o eventual desprendimento do iceberg - às mudanças climáticas globais.
No entanto, é amplamente aceito pela ciência que o aquecimento dos oceanos e da atmosfera tem sido um fator importante na desintegração de outras plataformas de gelo na Península Antártica.
A plataforma Larsen A se desfez em 1995 e a Larsen B, em 2002.