Coronavírus: ainda não tem droga com tratamento clínico aprovado para todos (Gerard Julien/AFP)
Lucas Agrela
Publicado em 8 de maio de 2020 às 19h10.
Última atualização em 9 de maio de 2020 às 12h09.
O maior estudo já feito e validado pela comunidade científica sobre o uso da hidroxicloroquina no combate à covid-19 mostra que o medicamento não é efetivo no tratamento da doença. A pesquisa foi feita por pesquisadores da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos. Os especialistas não fizeram testes em laboratório, eles foram conduzidos com pacientes que tinham sintomas graves causados pela infecção pelo novo coronavírus. Ou seja, os dados foram coletados por meio de um método observacional.
Até agora, nenhuma pesquisa cienfítica que demonstrou a eficácia da hidroxicloroquina apresentou resultados que tenham agradado à comunidade científica. Por causa disso, a Organização Mundial da Saúde não indica o medicamento como um dos possíveis tratamentos benéficos para a covid-19.
No novo estudo, publicado no respeitado periódico científico New England Journal of Medicine, os pesquisadores analisaram 1.376 infectados pelo vírus. Destes, 58,9% (811) foram tratados com a hidroxicloroquina, sendo que 45,8% receberam o tratamento nas 24 horas desde a chegada ao departamento de emergência do hospital até o começo do estudo, e 85,9% receberam o remédio 48 horas após passar pela emergência.
Do total, 346 desenvolveram insuficiência respiratória, 180 foram entubados e 166 morreram sem entubação. Segundo a análise, os pacientes que tomaram a hidroxicloroquina tiveram mais chances de ter insuficiências respiratórias do que aqueles que não a tomaram.
Segundo a pesquisa, o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, combinando ou não com a azitromicina, é baseado apenas em relatos de médicos e não foram comprovados, até o momento, cientificamente. O principal estudo que ganhou relevância internacional, mesmo sem validação científica, foi conduzido na França, mas tinha uma amostragem pequena de pacientes e não houve grupo de controle, ou seja, uma parcela dos pacientes avaliados que não recebeu os medicamentos.
Ainda assim, a hidroxicloroquina e sua variante cloroquina ganham o noticiário porque os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos afirmaram publicamente que os medicamentos tinha chances de curar pacientes com a covid-19 — o que fez com que a hidroxicloroquina sumisse das farmácias no Brasil, deixando pessoas com doenças como lúpus, artrite reumatóide e malária sem o remédio.
No novo estudo, os pesquisadores indicam que não foi encontrado nenhum benefício ou malefício do remédio no tratamento da covid-19, e que as descobertas "não devem ser usadas para beneficiar ou prejudicar o tratamento", mas que "não apoiam o uso da hidroxicloroquina fora de clínicas."
"Não achamos que, nesse ponto, com a totalidade das evidências, seja razoável dar essa droga rotineiramente aos pacientes. Não vemos o racional em fazer isso", disse o doutor Neil Schluger, chefe da divisão de doenças pulmonares, alergias e cuidados críticos da universidade, em entrevista à revista americana Time. "Os médicos veem pacientes que estão morrendo em taxas inacreditáveis e querem fazer algo para ajudar. Mas eu acho que a história da medicina nos mostra que alguns palpites estão certos e muitos, muitos outros estão errados", afirmou Schluger.
No mês passado, um estudo conduzido por pesquisadores de Manaus indicou que altas doses de cloroquina estariam ligadas a mais mortes de pacientes com covid-19.
No mundo, existem cerca de 200 medicamentos sendo estudados para conter a pandemia do novo coronavírus. Alguns deles são o Remdesivir, o Avigan e o APN01. Por enquanto, nenhum remédio tem aprovação clínica conclusiva, ou seja, em termos simples, o vírus segue infectando humanos sem termos encontrado um tratamento eficaz para combatê-lo. Como informa a reportagem da EXAME. a taxa de aprovação de novos remédios é de 16%, o que reduz a chance de um medicamento eficaz contra a covid-19 ser encontrada logo.
As últimas notícias da pandemia do novo coronavírus