Hawking: "Gostaria de visitar os EUA novamente e conversar com outros cientistas, mas temo que não seja mais bem-vindo” (Bryan Bedder/Getty Images)
Marina Demartini
Publicado em 20 de março de 2017 às 14h06.
Última atualização em 20 de março de 2017 às 15h44.
São Paulo – O físico Stephen Hawking, conhecido por suas declarações polêmicas, afirmou em entrevista ao programa de TV britânico Good Morning Britain que pretende viajar ao espaço. Segundo ele, além de seus três filhos, o que lhe faria ainda mais feliz é conhecer o universo de dentro de uma nave espacial.
Hawking disse que já completou um voo de gravidade zero que permitiu que ele flutuasse sem peso. “Porém, minha maior ambição é voar para o espaço”, disse o físico. Ele contou que nunca imaginou que alguém gostaria de levá-lo a uma viagem fora da Terra. “Mas Richard Branson me ofereceu um assento na Virgin Galactic e eu disse sim imediatamente.”
Richard Branson, bilionário e criador do grupo Virgin, fundou a companhia de voos espaciais Virgin Galactic em 2004. Na época, ele disse que esperava ver um voo inaugural de um dos foguetes da empresa até o final de 2009. No entanto, a data foi adiada devido a uma série de problemas, sendo o mais recente a explosão da nave SpaceShipTwo – VSS Enterprise logo após a sua decolagem, em outubro de 2014.
Esta não é a primeira vez que o físico comenta sobre o sonho de ir ao espaço. Em fevereiro de 2016, ele revelou o nome da nova nave suborbital SpaceShipTwo – VSS Unity – da Virgin Galactic durante a cerimônia de inauguração do foguete. O célebre físico contou que Branson ofereceu a ele um lugar na SpaceShipTwo e que, desde esse dia, ele nunca mudou de ideia. “Se eu puder ir – e se Richard ainda me aceitar – eu ficaria muito orgulhoso de voar nesta espaçonave.”
Hawking sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurodegenerativa, há 50 anos. A expectativa de vida da pessoa que tem a condição varia, porém mais de 60% dos doentes só sobrevivem entre dois a cinco anos.
Como é de costume, Hawking foi perguntado sobre os perigos da inteligência artificial. O cientista disse que desde a revolução industrial, as máquinas estão substituindo os seres humanos. “Porém, o maior perigo de inteligência artificial é permitir que ela se crie e possa melhorar rapidamente sozinha. Assim, nós podemos perder o controle.”
No final da entrevista, o jornalista perguntou a Hawking se ele acredita que o programa espacial da Nasa deveria ser reiniciado depois da descoberta dos sete novos planetas similares à Terra. O cientista respondeu de maneira cética: “O sistema recentemente descoberto de sete planetas do tamanho da Terra está a 39 anos-luz de distância. Com a tecnologia atual não há nenhuma maneira de viajarmos tão longe.”
Segundo ele, a única chance que temos é enviar nano robôs a partir de lasers gigantes a 20% da velocidade da luz. “Esses nano robôs pesam algumas gramas e levariam cerca de 240 anos para chegar ao seu destino e enviar fotos de volta à Terra”, explicou. “É viável e é algo que me deixa muito animado.”
Durante a entrevista de pouco mais de 11 minutos, Hawking falou sobre diversos assuntos que vão além da ciência. Um deles está relacionado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O físico afirmou que, desde a ascensão do empresário, ele não se sente mais bem-vindo nos EUA.
“Gostaria de visitar (o país) novamente e conversar com outros cientistas, mas temo que não seja mais bem-vindo”, disse Hawking. Segundo ele, Trump foi eleito por pessoas que se sentiram desprovidas de direitos pela elite governante. “Sua prioridade será satisfazer seu eleitorado, que não é nem liberal e nem bem informado.”
O cientista de 75 anos também disse estar preocupado com a política ambiental do presidente dos EUA. “A mudança climática é um dos grandes perigos que enfrentamos, e é algo que podemos prevenir”, afirmou. “Ela afeta mal a América, por isso, o combate a ela deve angariar votos para o segundo mandato de Trump. Deus me livre!”, brincou.
Outro assunto discutido foi o feminismo. Quando questionado sobre a ascensão de mulheres, como a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, e Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, o físico disse que “estamos assistindo a uma mudança sísmica para que as mulheres cheguem às posições de alto nível na política e na sociedade.”
No entanto, o físico disse que ainda pode haver uma lacuna entre as mulheres que alcançam status público elevado e aquelas no setor privado. Ele ainda afirmou que se considera feminista e que fica feliz “com estes sinais de libertação das mulheres.”
Veja a entrevista no vídeo (em inglês) abaixo: