Enfermeira preparando aplicação de vacina (Erasmo Salomao/Ministério da Saúde/Divulgação)
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou nesta quinta-feira, 27, à CPI da Covid que ofereceu ao governo federal em julho do ano passado 60 milhões de doses da CoronaVac a serem entregues ainda em 2020, e que o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a imunização contra a Covid-19 depois da China, mas não houve resposta por parte do Ministério da Saúde.
Segundo Covas, o Butantan pediu ainda apoio do governo federal em recursos para o estudo clínico no Brasil da vacina desenvolvida pela chinesa Sinovac e investimento de 80 milhões de reais para reforma do laboratório para ampliar a capacidade de produção, o que também não foi atendido.
Covas confirmou que as negociações com o Ministério da Saúde avançaram a partir de outubro, com a promessa de entrega de 100 milhões de doses, e intensas negociações entre as equipes técnicas do ministério e do instituto.
O presidente do Butantan disse que chegou a ser convidado pelo então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para um evento em que a CoronaVac seria anunciada como "vacina do Brasil", mas lembrou que o acordo foi desfeito após declaração do presidente Jair Bolsonaro contra a vacina.
"O outro dia de manhã, infelizmente, essas conversações não prosseguiram porque houve uma manifestação do presidente da República dizendo que a vacina não seria incorporada", disse Covas.
Segundo ele, o atraso na negociação com ministério atrasou o cronograma e o Brasil perdeu posição na lista de atendimento por parte da Sinovac, o que levou a um atraso em todo o fornecimento e no início da vacinação, que só ocorreu em janeiro deste ano.
"O Brasil poderia ter sido o primeiro país a começar a vacinação não fossem esses percalços", afirmou. "Poderíamos ter começado antes, seguramente, se houvesse agilidade maior de todos os atores, se tivéssemos trabalhado juntos".
O presidente do Butantan também afirmou à CPI que atrasos no recebimento de insumos da China para fabricação da CoronaVac colocam em dúvida a concretização do contrato de 100 milhões de doses até 30 de setembro.
Perguntado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre o motivo da recusa do governo federal em comprar a CoronaVac desde o início, o presidente do Butantan disse acreditar que "houve um descompasso de entendimento da importância da vacina dentro do contexto da pandemia".