(Reprodução/Getty Images)
Lucas Agrela
Publicado em 29 de novembro de 2018 às 15h46.
Última atualização em 30 de novembro de 2018 às 11h27.
Cientistas do governo dos EUA testarão um método experimental de controle de natalidade para homens que representaria um grande avanço no campo dos anticoncepcionais e proporcionaria mais igualdade no planejamento familiar, uma carga hoje suportada em grande parte pelas mulheres.
O estudo está sendo realizado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês) e envolverá 420 casais. O tratamento experimental é um gel aplicado nas costas e nos ombros que combina dois tipos de hormônios para interromper a produção de espermatozoides, mantendo os benefícios da energia e da libido proporcionados pela testosterona.
“Este gel seria o primeiro método de contracepção controlado pelo usuário e destinado aos homens desde a adoção do preservativo”, disse Diana Blithe, chefe do programa de desenvolvimento de anticoncepcionais do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano dos EUA. “Esperamos que seja uma forma aceitável de contracepção que os casais queiram usar.”
O gel é uma mistura de progestina e testosterona, e os pesquisadores examinarão seu êxito na prevenção da gravidez. As pessoas que confiam em preservativos têm uma taxa de falha de 12 por cento a 13 por cento e as pílulas anticoncepcionais baseadas em hormônios falham em cerca de 7 por cento das vezes.
“Alguns homens podem querer controlar a fertilidade, estando ou não em uma relação monogâmica”, disse Blithe, que é pesquisador do estudo, em entrevista, por telefone. “Seria uma opção para eles.”
Milhões de mulheres em todo o mundo usam controle de natalidade, que existe há décadas como uma forma confiável e relativamente conveniente de contracepção. É provável que muitas mulheres prefiram manter o controle sobre o método contraceptivo usado em uma relação sexual, mas algumas não podem tomar a pílula ou preferem não fazê-lo.
Blithe disse que a falta de opções para homens levou vários casais a entrarem em contato antes do estudo pedindo para participar dele. Pesquisas anteriores realizadas apenas com homens mostraram que a abordagem reduz a produção de espermatozoides, que se recupera depois que o gel deixa de ser usado, sem causar efeitos colaterais sérios.
Os pesquisadores dos NIH criaram o gel com o Population Council, um grupo sem fins lucrativos que trabalha com questões de saúde reprodutiva. O grupo ajudou a desenvolver a RU486, ou mifepristona, uma pílula que pode ser usada para interromper uma gravidez precoce. Blithe disse que se o gel para homens for bem-sucedido, seria buscado um parceiro comercial para ajudar a vendê-lo.
A droga é formulada como um gel porque a testosterona é eliminada muito rapidamente do corpo quando ingerida na forma de pílula. A progestina presente no gel, chamada Nestorone, bloqueia a produção natural de testosterona nos testículos, onde o espermatozoide é produzido. A testosterona substitui o hormônio no sangue.
“Cortamos na fonte, mas substituímos em todos os outros lugares em níveis que permitem manter tudo funcionando normalmente”, disse Blithe, ressaltando que os níveis de testosterona nos testículos são 50 vezes superiores à quantidade normalmente encontrada no sangue.
Os pesquisadores monitorarão os homens por quatro a 12 semanas para garantir que a produção de espermatozoide tenha caído o suficiente para evitar a concepção, e as mulheres usarão métodos alternativos de controle de natalidade por precaução. Depois disso, os casais usarão apenas o gel. Se os resultados forem positivos, será necessário outro teste maior antes de o produto receber aprovação.