Ciência

Feito no Brasil, estudo liga altas doses de cloroquina a mortes

O medicamento carece de pesquisas e testes clínicos para ter eficácia comprovada contra o coronavírus, causador da doença covid-19; vacinas estão em teste

Cloroquina: medicamento ainda está em testes para o tratamento de covid-19 (REB Images/Getty Images)

Cloroquina: medicamento ainda está em testes para o tratamento de covid-19 (REB Images/Getty Images)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 12 de abril de 2020 às 17h58.

Última atualização em 16 de maio de 2020 às 10h46.

Uma pesquisa científica feita no Brasil indica que o uso de altas dosagens de cloroquina em pacientes graves infectados pelo novo coronavírus pode levar à morte. 

Feita por pesquisadores de Manaus (AM), a pesquisa buscou avaliar os efeitos da cloroquina em pacientes infectados pelo novo coronavírus. Foram adotadas duas dosagens diferentes para o teste, feito com 81 participantes.

As dosagens adotadas foram de 600mg duas vezes ao dia, ao longo de dez dias; e 450 mg por cinco dias, com aplicação duas vezes ao dia apenas logo no primeiro dia de tratamento. Os indivíduos receberam o medicamento por meio de uma sonda nasogástrica.

A taxa de mortalidade foi mais alta entre as pessoas que receberam maior dosagem do medicamento: 17% contra 13,5% no segundo grupo, que recebeu dosagem menor de cloroquina. Junto ao remédio, também foram dados ceftriaxona e azitromicina aos pacientes.

Vale notar que os dados ainda são preliminares, não conclusivos - o que significa que mais estudos são necessários sobre a relação do medicamento com a doença e as mortes.

"Tais resultados nos forçaram a interromper prematuramente o recrutamento de pacientes para esse braço [da pesquisa]. Dado o enorme impulso global para o uso da cloroquina, resultados como os encontrados neste estudo podem fornecer evidências robustas para recomendações atualizadas de gerenciamento de pacientes com Covid-19", segundo os pesquisadores.

Ainda não há um medicamento testado e comprovado como eficaz e sem riscos para o tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus. No entanto, tanto o presidente dos Estados Unidos Donald Trump quanto o presidente brasileiro Jair Bolsonaro dizem acreditar na eficácia do medicamento, bem como na variante hidroxicloroquina, usada contra malária, lúpus e artrite.

O entusiasmo é apoiado em uma pesquisa feita na França, com uma amostra pequena de pacientes que receberam a cloroquina junto a um antibiótico. Porém, o estudo é criticado pela comunidade científica internacional por ter uma amostra de pessoas pequena demais para identificar potenciais efeitos negativos quando o tratamento foi aplicado em ampla escala, bem como devido à abrangência de mais cenários de uso da substância em pessoas com covid-19.

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