Ciência

Estudo lista hipóteses para explicar 2ª onda de microcefalia

Pesquisadores brasileiros lançam três hipóteses para a expressiva redução de casos novos em 2016, quando comparada com 2015

Microcefalia: em 2015, quando a epidemia de zika atingiu sobretudo a região Nordeste do País, foi registrado um aumento muito importante da síndrome, até então considerada rara (REUTERS / Ueslei Marcelino/Reuters)

Microcefalia: em 2015, quando a epidemia de zika atingiu sobretudo a região Nordeste do País, foi registrado um aumento muito importante da síndrome, até então considerada rara (REUTERS / Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de março de 2017 às 20h39.

Última atualização em 31 de março de 2017 às 22h42.

Brasília - Por que a segunda onda de casos de microcefalia no Brasil foi menor do que a de 2015?

Em artigo publicado no New England Journal of Medicine, pesquisadores brasileiros lançam três hipóteses para a expressiva redução de casos novos em 2016, quando comparada com 2015.

Os autores - entre eles, Wanderson Oliveira, Cláudio Maierovitch e Eduardo Hage - observaram uma semelhança importante na evolução epidemiológica entre dois problemas relacionados ao zika, a Síndrome de Guillain-Barré e microcefalia.

Em 2015, quando a epidemia de zika atingiu sobretudo a região Nordeste do País, foi registrado um aumento muito importante da síndrome, até então considerada rara.

Os casos ocorriam em média 3 semanas depois do aparecimento dos primeiros sintomas de zika.

Pacientes com a síndrome apresentam uma paralisia progressiva, começando pelos membros inferiores e podendo chegar ao pulmão.

Quase quatro meses depois desse aumento inesperado de Guillain-Barré, os casos de microcefalia começaram a surgir.

Autores notaram que os gráficos (formados a partir da distribuição do número de novos casos ao longo das semanas) de Guillain-Barré e demicrocefalia praticamente se repetiam.

"O comportamento era muito parecido, com uma diferença de 23 semanas entre eles", conta Cláudio Maierovitch, pesquisador da Fiocruz.

Em 2016, a curva de Guillain-Barré se repetiu.

"A distribuição de casos ao longo das semanas foi muito semelhante ao de 2015", diz Maierovitch. Para alívio de profissionais de saúde e da população em geral, no entanto, o aumento de casos de microcefalia, esperado para tempos depois, não ocorreu.

Pesquisadores citam três hipóteses para explicar a mudança de comportamento.

A primeira delas é a redução importante da circulação do zika.

Os casos de Guillain-Barré teriam sido consequência não de uma reação ao zika, mas de chikungunya, vírus também transmitido peloAedes aegypti e igualmente associado à Guillain-Barré.

"Experiências de outros países mostram que a chikungunya também provoca a síndrome, mas com menos frequência do que a zika", explica o pesquisador da Fiocruz.

Isso poderia justificar em parte o número de casos de pacientes com a síndrome não tenha aumentado muito, em relação a 2015.

"A epidemia de chikungunya foi em grandes proporções. Mas acredita-se que sua capacidade de provocar a síndrome seja menor do que zika."

A segunda hipótese é de que a epidemia registrada no Nordeste de microcefalia esteja associada a um outro fator, ainda não identificado.

"A transmissão do zika da mãe para o bebê pode ser um dos fatores da microcefalia, mas talvez não o único.

Uma possibilidade é a de que esse fator associado não tenha se repetido em 2016."

Autores citam ainda a hipótese de que o medo da microcefalia tenha reduzido o número de gestações em 2016 ou ampliado os casos de aborto.

"São três hipóteses. Uma não exclui a outra", diz Mairovitch.

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