Anticorpo em 3D: descoberta pode ajudar a encontrar a vacina ideal (Science/Reprodução)
Tamires Vitorio
Publicado em 14 de julho de 2020 às 11h37.
Última atualização em 14 de julho de 2020 às 22h15.
Uma estrutura em 3D de um anticorpo neutralizador do novo coronavírus pode ajudar no desenvolvimento de uma vacina. Segundo o estudo, que foi publicado na revista científica Science, a proteína das espículas da covid-19 é o principal antígeno (substância estranha ao organismo que desencadeia a produção de anticorpos) da doença. Para os pesquisadores, entender como isso funciona é o principal passo para encontrar uma prevenção.
Os pesquisadores analisaram 294 anticorpos do SARS-CoV-2 e descobriram que o IGHV3-53 é o gene mais frequente para enfrentar o receptor da espícula.
O IGHV3-53, segundo os cientistas, mostram "maturação de afinidade mínima e alta potência", o que, para eles, é promissor para a criação de uma vacina. Isso significa que o anticorpo não precisa de um nível alto de maturação para ser utilizado e pode resultar em uma resposta mais eficiente contra o vírus.
Em publicação em seu perfil no Twitter, o doutor em microbiologia pela USP e divulgador científico, Atila Iamarino, afirmou que, com isso "acharam o alvo certo, viram que ele é acessível e que tem boas chances do sistema imune atacar --- isso aumenta as chances e as ideias de estratégias pra vacina". Se a vacina for feita com base em anticorpos, é claro.
Como tem bastante gente compartilhando, vou dar o contexto dessa conclusão que me animou no estudo com um fio científico. Nem sempre é fácil fazer anticorpos que atacam um vírus com eficiência. Poucas pessoas no mundo fizeram anticorpos que param o HIV, por exemplo. pic.twitter.com/JuxgrXFfqR
— Atila Iamarino (@oatila) July 13, 2020
O último relatório disponibilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 23 vacinas estão em fase clínica de testes e outras 140 estão passando por avaliações pré-clínicas. Dessas 163, apenas duas estão na fase 3 de testes: a da AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford e a chinesa Sinovac, ambas testadas também no Brasil.
Para uma vacina ser aprovada e distribuída, ela precisa passar por três fases de testes. A fase 1 é a inicial, quando as empresas tentam comprovar a segurança de suas vacinas em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina produz sim imunidade contra um vírus, já a fase 3 é última fase do estudo, tenta demonstrar a eficácia da vacina. Para que uma vacina seja finalmente disponibilizada para a população, é necessário que essa fase seja finalizada e que a proteção receba um registo sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina é disponibilizada para a população.
Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no ínicio de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.
Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.
Nenhum medicamento ou vacina contra a covid-19 foi aprovado até o momento para uso regular, de modo que todos os tratamentos são considerados experimentais --- mas o modelo em 3D traz boas perspectivas na corrida pela cura.