Coronavírus: doença já infectou mais de 77 milhões de pessoas (Andriy Onufriyenko/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 29 de dezembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 30 de dezembro de 2020 às 10h58.
Era um dia comum de dezembro de 2019 quando surgiram as primeiras notícias sobre a existência de um novo vírus mortal vindo da China: o novo coronavírus.
Na época, ainda sem um nome, a doença parecia quase restrita a uma parte do mundo, com pouca chance de se espalhar em um rompante pandêmico -- e o Ocidente assistiu aos casos chineses aumentarem de um para dois, para mais de 11.000 em janeiro de 2020 e para mais de 79.000 apenas um mês depois.
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Em março deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a covid-19 uma pandemia. Não demorou para que os países mais afetados decretassem lockdown e para que as atividades fossem reduzidas, bem como o cancelamento de diversos eventos que exigiam a presença de muitas pessoas em um local.
Agora, pouco mais de um ano depois da confirmação das primeiras ocorrências, o mundo já ultrapassou a marca de 77 milhões de casos.
A pandemia, que antes parecia ter data marcada para acabar, está longe de um fim -- e pular Carnaval em 2021 não será uma atividade segura como outrora foi.
O cenário no fim do ano parece mais positivo do que no começo, uma vez que vacinas já tiveram sua eficácia comprovada e já estão sendo administradas na população geral, como é o caso da imunização desenvolvida pela farmacêutica americana Pfizer em parceria com a alemã BioNTech, utilizada no Reino Unido e nos Estados Unidos.
Os esforços para barrar a pandemia não têm sido poucos: de acordo com o relatório da OMS do dia 17 de dezembro, 56 vacinas estão em fase de testes, 13 na última fase necessária para uma aprovação, enquanto outras 166 estão em desenvolvimento pré-clínicos.
A aprovação de uma vacina foi a mais rápida já vista nos últimos anos da humanidade moderna. Em média, uma vacina demora 10,7 anos para ser produzida. A mais rápida a passar por todas essas fases em um mundo pré-covid foi a do ebola, que demorou cinco anos para ficar pronta e ser aprovada pela agência análoga à Anvisa nos Estados Unidos (a Foods and Drugs Administration, ou FDA) e pela Comissão Europeia em 2019.
Atualmente, os Estados Unidos são o epicentro da doença no mundo, com mais de 18 milhões de infectados, segundo dados da universidade americana Johns Hopkins -- posto que ocupa desde fevereiro. Os EUA são responsáveis por 23,78% dos casos mundiais -- e correm contra o tempo para resolver a situação.
Em segundo lugar está a Índia, com cerca de 10 milhões de doentes. Em seguida vem o Brasil, com mais de 7,2 milhões de casos confirmados.
Outros países, como a Nova Zelândia e a própria China, têm visto o número de casos cair ao longo dos meses, com estratégias de sucesso para barrar a circulação do vírus.
Para a professora Ester Sabino, da Faculdade de Medicina da USP, isso se dá devido às medidas restritivas que ambos os países adotaram quando passaram por surtos de covid-19. "O aumento de casos está diretamente relacionado a como você convence a população a não sair de casa", afirma.
Para Sabino, regras mais rígidas de controle de viajantes que chegam ao país, o distanciamento social e o uso de máscaras em locais públicos são essenciais para reduzir as infecções.
Os dados foram apurados no dia 21 de dezembro.
Até agosto o Brasil era o segundo país mais afetado pelo Sars-CoV no mundo todo. Em agosto, perdeu o posto para a Índia -- mas, mesmo com a desaceleração dos casos, ainda não atingiu um platô no número de infectados.
De março até agora houve um aumento de quase 127.000% no número de infectados e 93.079% na quantidade de óbitos.
1. Sinovac Biotech — A vacina do laboratório Sinovac, conhecida como CoronaVac, tem como base o próprio vírus inativado criado em uma cultura dentro de um laboratório para ser aplicado nos pacientes. Conhecida como “vacina chinesa”, ela estimula a produção de anticorpos pelo corpo humano, o que ajuda a prevenir os sintomas graves da covid-19, que podem levar à morte.
Com a formação desses anticorpos, o organismo pode combater a doença de forma mais eficiente, sem causar grandes danos à saúde. A expectativa da companhia é produzir até 100 milhões de doses anuais da vacina. Cerca de 10.000 voluntários estão sendo testados no Brasil.
Na semana passada, o Instituto Butantan anunciou que começou as obras necessárias para a fabricação de cerca de 1 milhão de doses diárias da CoronaVac no Brasil. A obra deverá ser concluída somente no final do ano que vem. Outros 6 milhões de doses virão prontos da China.
2 e 3. Sinopharm (Wuhan e 3, Pequim) — Menos comentada do que as outras, a vacina, também chinesa, “desencadeou uma reação imunológica” nos voluntários no início do mês de agosto. Os testes dela estão sendo realizados nos Emirados Árabes Unidos, onde devem ser recrutados cerca de 15.000 voluntários, e cerca de 60 brasileiros participarão de sua última fase de testes.
No México, a vacina da Sinopharm conseguiu ter “100% de eficácia em um voluntário no México” — uma base muito pequena para demonstrar a real eficácia da proteção. Cerca de 56.000 pessoas já receberam a dose da vacina do laboratório chinês, que tem como base o vírus inativado da covid-19, segundo a mídia local.
4. Oxford e AstraZeneca — A vacina britânica está sendo testada em diversos países, entre eles o Brasil. Os testes administrados são duplo-cegos, ou seja, nem os médicos e nem os pacientes sabem qual dose está sendo administrada e possui um grupo de placebo.
A vacina de Oxford é feita com base em adenovírus de chimpanzés (grupo de vírus que causam problemas respiratórios) e contém espículas do novo coronavírus. No Brasil, até o momento, aproximadamente 8.000 voluntários já tomaram as duas doses da proteção e outros 2.000 devem tomá-la até o final das pesquisas.
5. Moderna — Mais uma americana na lista, a Moderna espera ter 20 milhões de doses disponíveis nos Estados Unidos, com cerca de 500 milhões de doses produzidas anualmente. A vacina, que tem como base o RNA do vírus, permanece estável em temperaturas de 2 a 7 graus – semelhante à temperatura de uma geladeira doméstica – por até 30 dias — um bônus quando comparada com outras vacinas.
6. Pfizer e BioNTech — A empresa espera produzir até 100 milhões de doses até o fim do ano. Outro 1,3 bilhão de doses pode ser fabricado no ano que vem. Apesar das boas notícias, a vacina da Pfizer pode ter um empecilho para a importação por outros países. Ela tem como base o RNA mensageiro, cujo objetivo é produzir as proteínas antivirais no corpo do indivíduo.
Com a injeção, o conteúdo é capaz de informar as células do corpo humano sobre como produzir as proteínas capazes de lutar contra o coronavírus. O problema é que as vacinas desse tipo precisam ser armazenadas em temperaturas muito baixas, de cerca de 70 graus negativos, enquanto vacinas de DNA podem ser guardadas em temperatura ambiente. Se a vacina da Pfizer for aprovada, transportá-la para outros países poderá ser um problema.
7. Instituto Gamaleya — A polêmica vacina russa Sputnik V foi a primeira a ser registrada no mundo todo, mesmo sem ter passado por todas as fases de testes e, em pouco tempo, foi colocada para uso comercial. Em setembro, em um estudo publicado na prestigiada revista científica The Lancet, o instituto afirmou que “a vacina foi capaz de induzir resposta imune nos voluntários e se mostrou segura nos testes das fases 1 e 2”. Mais tarde, cientistas questionaram a veracidade e a duplicidade de certas informações que constavam no documento.
A vacina teve duas fases pequenas de 42 dias — uma delas estudou uma formulação congelada e a outra uma versão desidratada da vacina. O que foi descoberto é que a vacina congelada é melhor para ser produzida em larga escala e preencher os estoques globais, enquanto a segunda opção é melhor para regiões de difícil alcance. Ela é baseada no adenovírus humano fundido com a espícula de proteína em formato de coroa que dá nome ao coronavírus.
É por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e então partir para a próxima vítima. Na semana passada, segundo o Ministério da Saúde russo, a vacina apresentou 92% de eficácia — resultado divulgado, novamente, sem provas científicas.
8. Cansino — Mais uma chinesa para a lista, a proteção do laboratório teve a primeira patente concedida no país. A Ad5-nCOV, como é chamada, também é baseada no vetor de adenovírus recombinante e começou a ser testada em militares chineses no dia 25 de junho — essa fase de testes deve durar um ano.
As fases 1 e 2 da vacina mostraram que ela tem “o potencial necessário para prevenir as doenças causadas pelo coronavírus”, mas o sucesso comercial dela ainda não pode ser garantido, segundo informou a companhia mais cedo neste ano.
9. Janssen e Johnson & Johnson — Com a ideia de testar 60.000 pessoas em três continentes, a vacina da companhia americana terá apenas uma dose e será testada nos Estados Unidos, no Brasil e na África do Sul, entre outros.
A ideia da companhia é ter resultados dos testes já no começo do próximo ano — se forem positivos, podem levar a uma autorização emergencial dos governos ao redor do mundo. Resultados preliminares da última fase, no entanto, não devem ser esperados pelos próximos dois meses.
A vacina da Johnson & Johnson (em parceria com a farmacêutica belga Janssen Pharmaceuticals) utiliza um adenovírus (que causa a gripe comum) modificado a fim de induzir o sistema imune humano a se proteger contra o Sars-CoV-2.
Segundo as empresas, a proteção será “produzida em larga escala” e até 1 bilhão de doses serão produzidas e distribuídas mundialmente em 2021, após uma eventual aprovação.
10. Novavax — Outra empresa americana que está no páreo para a produção de uma vacina da covid-19 é a Novavax, que nunca produziu uma vacina em mais de três décadas de existência. A fórmula da vacina usa proteínas do próprio vírus para ativar uma resposta imune. A fase 3 de testes da imunização da Novavax incluirá idosos (cerca de 25% dos voluntários deve ter mais de 65 anos) e ocorrerá no Reino Unido, em parceria com o governo. Serão 10.000 voluntários a receber as doses da vacina experimental.
11. Bharat Biotech — A novata na lista das vacinas em fase 3 de testes é a Covaxin, imunização que tem como base o vírus inativado da covid-19. O teste será realizado em 25.000 voluntários na Índia, inicialmente, com idade acima dos 18 anos, em 25 centros no país.
A empresa afirmou que vai monitorar os voluntários por um ano para estudar a ocorrência de casos ativos de coronavírus. Os voluntários da fase 3 receberão duas injeções intramusculares com uma diferença de 28 dias entre elas, de forma randomizada e duplo-cega, com um grupo de placebo.
12. Academia Chinesa de Ciências — A vacina é feita com o vírus inativado da covid-19 e pretende testar 29.000 pessoas na China.
13. Medicago — A companhia canadense vai testar cerca de 30.600 voluntários, e sua vacina não é feita com vírus vivos, mas com agrobactérias geneticamente modificadas em plantas. A imunização também tem duas doses e resultados preliminares de sua eficácia devem ser divulgados depois de 31 de dezembro.
Para uma vacina ser aprovada, ela precisa passar por diversas fases de testes clínicos prévios e em humanos. Primeiro, ela passa por fases pré-clínicos, que incluem testes em animais como ratos ou macacos para identificar se a proteção produz resposta imunológica.
A fase 1 é a inicial, quando os laboratórios tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a fase 3 tenta estabelecer de a vacina ou o remédio produz imunidade contra um vírus. Já a fase 3 é a última do estudo e procura demonstrar a eficácia da imunização.
Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando a fase 3 é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário.
Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população. Para chegar mais rapidamente ao destino, muitas opções contra a covid-19 nem passaram pela fase pré-clínica e outras estão fazendo fases combinadas, como a 1 e a 2 ao mesmo tempo.