Boris Johnson: premiê britânico se vacinou nesta sexta-feira, 19 (Frank Augstein/Pool/Reuters)
Após alcançarem uma ampla cobertura vacinal, países europeus como França, Espanha, Dinamarca e Reino Unido anunciaram que devem passar a tratar a covid-19 como uma endemia em seus respectivos territórios.
No caso específico da Inglaterra, em 19 de janeiro, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou que o caminho a ser seguido pelo país seria o de abolir as restrições, e deixar as medidas de proteção a critério das pessoas.
“À medida que a covid se torna endêmica, precisaremos substituir os requisitos legais por conselhos e orientações, instando as pessoas com o vírus a serem cuidadosas e atenciosas com as outras”, disse, dando o tom da abertura.
No último ano, o Reino Unido passou por várias mudanças nas medidas de restrição, com flexibilizações e rigidez alternando conforme o país acompanhava o avanço da covid.
Contudo, o controle por meio do isolamento social e restrições via comprovante de vacina não estão mais no radar. Na última sexta-feira, 11, pessoas vacinadas foram dispensadas de apresentar o teste negativo de covid-19 para entrar na Inglaterra.
Em 27 de janeiro, o uso de máscaras e a apresentação de comprovante vacinal em lugares de reunião de pessoas deixaram de ser obrigatórios.
Mas, mais do que a retirada das exigências, o país tem um plano para reajustar os comportamentos com a aparente convivência com o coronavírus e que deve antecipar as melhores políticas, e também as piores, para as nações que adotarem o mesmo caminho.
Testes gratuitos e entregues em casa pelo governo e planos de saúde devem ser descartados até 1º de abril. Pelo custo aos cofres públicos, a nova política também considera por fim na testagem de confirmação em quem demonstrar os sintomas da doença e a exigência de que os estudantes façam testes a cada duas semanas.
Alguns cientistas levantaram preocupações com a proposta, apontando que a redução dos testes pode comprometer a capacidade do Reino Unido de detectar e monitorar novas variantes.
Eles também se preocupam em como será feito o monitoramento de surtos de covid, o que pode manter os níveis de contaminação muito acima do que o status de endemia estipula.
“Se o teste não for gratuito, as pessoas não o farão”, disse Julian Tang, virologista clínico da Universidade de Leicester, ao jornal inglês The Guardian.
Tang diz acreditar que o vírus provavelmente evoluiu para se tornar mais leve, mas acrescentou: “No caminho, pode haver uma variante mais virulenta ocasional que cause mais hospitalização brevemente antes de morrer – como vimos nas variantes Beta, Gamma, Lambda e Mu".
Pelo mal menor, cerca de 1,3 milhão das pessoas mais pobres do país continuarão a ter acesso gratuito aos testes.
A partir da quarta-feira, 24 de fevereiro, pessoas que testam positivo não terão mais obrigação legal de se isolar, mas ainda receberão a recomendação de ficar em casa e evitar contato com outras pessoas por ao menos cinco dias completos.
O rastreamento de contatos também acabará, então pessoas nessa situação serão totalmente vacinadas e com menos de 18 anos não serão mais obrigadas a fazer testes diários por sete dias. O pagamento de £500 (cerca de R$ 3,4 mil) para pessoas de baixa renda que testam positivo e precisam se isolar será extinto.
Faz um mês que as máscaras se tornaram opcionais na maioria dos espaços e transportes públicos da Inglaterra.
Alguns serviços, como o Transport for London, ainda exigem o uso de coberturas faciais. Mas os únicos locais que ainda exigem a proteção sem exceção são os hospitais.
As outras três nações do Reino Unido — Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales — possuem alguma autonomia para definir suas próprias regras.
Mas a Associação Médica Britânica considera que a decisão da Inglaterra expõe em grande risco todos os cidadãos que correspondem aos grupos de comorbidades, como as pessoas imunossuprimidas. Políticos de oposição também disseram que as medidas estão sendo aplicadas cedo demais.
A avaliação geral é de que Boris Johnson está se movimentando no sentido de conter a crise política que enfrenta. No início do ano, se tornou público que o próprio ministro e algumas autoridades britânicas participaram de festas em gabinetes no auge dos lockdowns, quando esses tipos de eventos eram proibidos.