Ciência

Embalagens de fast food podem contaminar a comida

Vários pacotes contêm compostos químicos chamados PFCs, que podem causar câncer e problemas imunológicos, revela um novo estudo

Fast food (Simon Dawson/Bloomberg)

Fast food (Simon Dawson/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de fevereiro de 2017 às 10h22.

Última atualização em 13 de fevereiro de 2017 às 08h05.

Após as comilanças de fim de ano, é provável que você esteja entrando no mês de fevereiro de regime. Para dar um estímulo extra aos corajosos que tiraram fast food do cardápio, um grupo de pesquisadores liderados por Laurel A. Schaider, do Instituto Silent Spring em Massachusetts, nos EUA, analisou a composição química dos copos de suco, das caixinhas de papelão das batatas fritas e até dos papéis em que são embrulhados os sanduíches em redes como o McDonald’s ou o Burger King.

E descobriu que quase todas as embalagens liberam, em quantidades diferentes, compostos químicos perfluorados (PFCs), também conhecidos como PFASs.

PFCs são muito populares, e não é à toa: eles não gostam de interagir com água e gordura, o que os torna ótimos para criar superfícies duráveis como as de panelas antiaderentes e tecidos impermeáveis.

O problema é que alguns tipos específicos de PFCs, como o PFOA e o PFOS (é bom ficar com as siglas — os nomes são incompreensíveis) são tóxicos, não se decompõe com facilidade e tendem a se acumular em organismos vivos, como peixes, tartarugas ou você. É, você mesmo. As consequências podem vir na forma de tumores, problemas congênitos ou baixa fertilidade.

É por isso que agência de proteção ambiental dos Estados Unidos, a EPA, os considera perigosos, e o protocolo de Kyoto regula seu uso — alguns tipos de PFCs também se acumulam na atmosfera e colaboram com o efeito estufa.

Em 2011 a U.S. Food and Drug Administration, espécie de ANVISA norte-americana, fechou um acordo voluntário com várias empresas para impedir o uso deles em embalagens de comida.

Pelo jeito, não adiantou muita coisa: no estudo de Schaider, foram para o laboratório mais de 400 amostras de 27 redes de todo o país. 56% dos pacotes de sobremesas, como saquinhos de cookies, continham PFCs, assim como 38% das embalagens de sanduíche e 20% das caixinhas de batata frita. Só os copos estavam livres dessas substâncias.

Um dos problemas é que embora a indústria americana esteja livre dessas substâncias, outros países ainda produzem embalagens lotadas de PFCs.

O outro é que, na verdade, os EUA não estão exatamente livres deles. Schaider percebeu que moléculas proibidas, de cadeia mais longa (ou seja, mais compridas), estão sendo substituídas por versões curtinhas, que tem os mesmos efeitos na prática mas não estão sujeitas ao acordo vigente.

“Esses novos compostos são igualmente persistentes e não há provas de que sejam seguros para a saúde humana”, afirmou uma das co-autoras do estudo, Arlene Blum, ao EurekaAlert!

“É por isso que precisamos reduzir o uso de todos os compostos perfluorados. A boa notícia é que há variações não-perfluoradas disponíveis.”

Em muitos casos, vale a ressalva, as embalagens analisadas não haviam sido deliberadamente tratadas com esses compostos, mas eles apareciam como resquícios de materiais reciclados usados na produção das embalagens. Valeu a intenção. As piores colocadas foram as embalagens de comida “Tex-Mex”, mistura das culinárias mexicana e texana típica do centro-sul do país.

Este conteúdo foi originalmente publicado na Superinteressante.

Acompanhe tudo sobre:comida-e-bebidaDoençasFast food

Mais de Ciência

Telescópio da Nasa mostra que buracos negros estão cada vez maiores; entenda

Surto de fungos mortais cresce desde a Covid-19, impulsionado por mudanças climáticas

Meteoro 200 vezes maior que o dos dinossauros ajudou a vida na Terra, diz estudo

Plano espacial da China pretende trazer para a Terra uma amostra da atmosfera de Vênus