Ciência

Em busca da cura do câncer, Heman Bekele é eleito Criança do Ano pela TIME

Pesquisando uma solução para o câncer de pele, jovem de 15 anos está desenvolvendo um sabonete que pode revolucionar o tratamento da doença

Heman Bekele, de 15 anos, busca a cura para o câncer de pele e recebeu uma série de prêmios internacionais pela sua pesquisa. (NBC Universal/Getty Images)

Heman Bekele, de 15 anos, busca a cura para o câncer de pele e recebeu uma série de prêmios internacionais pela sua pesquisa. (NBC Universal/Getty Images)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 16 de agosto de 2024 às 13h52.

Heman Bekele, aos 15 anos, já é um nome de destaque na ciência, tendo sido eleito a Criança do Ano de 2024 pela revista TIME. Natural da Etiópia e atualmente vivendo nos Estados Unidos, Heman se destacou pelo desenvolvimento de um sabonete inovador que pode tratar e prevenir diversos tipos de câncer de pele. Seu projeto começou com uma paixão pela ciência ainda na infância e evoluiu para uma pesquisa que, se bem-sucedida, poderá salvar inúmeras vidas. Hoje, Heman trabalha em um laboratório na Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, em Baltimore, onde dedica seus dias a transformar sua visão em realidade.

O interesse de Heman pelo câncer de pele tem raízes em suas próprias experiências. Desde cedo, ele observava trabalhadores ao ar livre expostos ao sol sem qualquer proteção para a pele, uma visão comum em sua terra natal, Addis Abeba. Ao emigrar para os Estados Unidos com sua família, Heman começou a perceber a gravidade da exposição ao sol e os riscos associados à radiação ultravioleta. Essa conscientização o motivou a criar uma solução acessível para combater o câncer de pele. Sua ideia: um sabonete que incorpora um medicamento conhecido como imiquimod, utilizado no tratamento de alguns tipos de câncer de pele, em uma fórmula acessível e que poderia ser amplamente utilizada, independente de classe socioeconômica.

O caminho até essa descoberta não foi fácil. Heman começou suas aventuras científicas misturando produtos domésticos comuns, como detergente e sabão, em busca de reações químicas. Aos 7 anos, ele ganhou seu primeiro kit de química e rapidamente passou a explorar reações mais complexas. Anos depois, ao aprender sobre o imiquimod, Heman começou a desenvolver a ideia de incorporar o medicamento em um sabonete, tornando-o mais acessível do que os tratamentos convencionais, que podem custar até R$ 218 mil (US$ 40 mil).

Prêmios internacionais

A inovação de Heman chamou a atenção em 2023, quando ele participou do desafio "Young Scientist Challenge" promovido pela 3M e Discovery Education. Sua ideia de um sabonete terapêutico venceu a competição, garantindo a ele um prêmio de R$ 136,5 mil (US$ 25 mil) e a oportunidade de continuar sua pesquisa em um ambiente profissional. Foi durante um evento de networking em Washington, D.C., que Heman conheceu Vito Rebecca, um biólogo molecular da Universidade Johns Hopkins, que se ofereceu para ser seu mentor e permitir que ele conduzisse seus experimentos no laboratório da universidade.

No laboratório, Heman e Rebecca têm conduzido pesquisas fundamentais em ratos, injetando cepas de câncer de pele nos animais e aplicando o sabonete infundido com imiquimod para observar os resultados. O objetivo é testar a eficácia do sabonete no tratamento do melanoma, um dos tipos mais agressivos de câncer de pele. Apesar de ainda estar no início da pesquisa, Heman está ciente dos desafios que enfrentará, incluindo o processo de patenteamento do produto e a obtenção de aprovação pela FDA, o que pode levar até uma década.

Paralelamente ao seu trabalho no laboratório, Heman também tem se dedicado a divulgar sua ideia. Em junho de 2024, ele apresentou seu projeto diante de 8.000 pessoas no Tsongas Center, em Boston, durante uma reunião da Academia Nacional de Futuros Médicos e Cientistas. Esse evento destacou não apenas suas habilidades científicas, mas também sua capacidade de comunicar e inspirar outros jovens cientistas.

Agradecimento aos pais

Heman acredita que seu sucesso até agora é resultado de um apoio familiar sólido e de mentores inspiradores. Seus pais, Muluemebet, uma professora, e Wondwossen, um especialista em recursos humanos na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, foram fundamentais para nutrir sua paixão pela ciência. Eles imigraram para os Estados Unidos quando Heman tinha apenas 4 anos, buscando melhores oportunidades educacionais para seus filhos. Essa dedicação dos pais e o exemplo de sacrifício em prol da educação inspiraram Heman a perseguir objetivos que muitos considerariam impossíveis.

Apesar de seu impressionante progresso, Heman mantém uma visão humilde sobre suas realizações. Ele insiste que qualquer pessoa poderia ter feito o que ele fez, enfatizando que a chave é ter uma ideia e trabalhar arduamente para realizá-la. No entanto, ele também expressa preocupações sobre o futuro da inovação científica. Para Heman, o mundo nunca ficará sem novas ideias; é essencial que as pessoas continuem a inventar e a pensar em novas maneiras de melhorar o mundo.

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