Ciência

É “tarde demais” para zerar emissão de gases até 2050, alertam cientistas

Em novo relatório, o Conselho Consultivo de Crise Climática adverte que o mundo não atingirá as metas estabelecidas no Acordo de Paris, cujo objetivo é limitar o aquecimento global a 1,5 °C até o final do século

Protesto alerta sobre o aquecimento global. Novembro de 2019. Foto: Andrea Ronchini/NurPhoto via Getty Images (Andrea Ronchini/NurPhoto/Getty Images)

Protesto alerta sobre o aquecimento global. Novembro de 2019. Foto: Andrea Ronchini/NurPhoto via Getty Images (Andrea Ronchini/NurPhoto/Getty Images)

LP

Laura Pancini

Publicado em 25 de agosto de 2021 às 20h00.

Última atualização em 25 de agosto de 2021 às 20h14.

Em novo relatório, o Conselho Consultivo de Crise Climática (CCAG ou, em inglês, Climate Crisis Advisory Group) adverte que agora é "tarde demais" para chegar a zero emissões de gases de efeito estufa até 2050.

O CCAG também alertou que o mundo não atingirá as metas estabelecidas no Acordo de Paris, cujo objetivo é limitar o aquecimento global a 1,5 °C até o final do século.

Divulgado pela Agência Bori, o relatório foi feito de forma independente pelo CCAG, que reúne 15 especialistas do clima de dez países diferentes, com a missão de impactar na tomada de decisão sobre a crise climática.

A pesquisa leva em consideração as recentes descobertas publicadas no novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). 

Nele, os cientistas trouxeram um dado alarmante: os seres humanos são responsáveis por um aumento de 1,07 °C na temperatura do planeta.

Além disso, o relatório deixa claro que as metas de emissões globais atuais são inadequadas e que estratégias de emissões negativas são necessárias.

“Hoje, com 1,1 °C de aquecimento, vivenciamos eventos climáticos extremos e devastadores que, mesmo sem mais emissões de gases de efeito estufa, se agravarão devido à inércia do sistema climático", disse a equipe do CCAG em relatório.

O que mostra o novo relatório do CCAG?

A pesquisa sugere que há pouco tempo para converter o que já foi feito. Mesmo que os países atinjam zero emissões líquidas de CO2 até 2025, o CO2 já presente na atmosfera pode chegar a até 540 partes por milhão (ppm).

Para comparação, no Acordo de Paris foi estabelecida a meta de limitar o CO2 na atmosfera a 450 ppm, o equivalente ao aquecimento médio global de menos de 1,5 °C.

O CCAG afirma que tal estimativa já não serve mais: "Se devidamente considerarmos todos os gases de efeito estufa, e sua equivalência de CO2, o limite de 450 ppm já foi ultrapassado, contradizendo a noção generalizada de um "orçamento de carbono" que ainda poderia ser gasto."

Faltando quase dois meses para a COP26, Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, o CCAG pede aos líderes globais que comecem a focar em emissões negativas, única forma de garantir que os níveis de gases de efeito estufa retornem aos níveis pré-industriais.

Portanto, a próxima década será decisiva. Caso mudanças sejam implementadas, elas devem impactar futuras gerações por séculos ou até milênios e se nada for feito, tudo indica que vamos atingir 1,5 °C a mais na temperatura global em nove anos.

“Alcançar emissões zero até 2050 não é mais suficiente para garantir um futuro seguro para a humanidade; devemos revisar as metas globais e nos comprometermos com estratégias negativas de emissão de gases de efeito estufa urgentemente”, comenta David King, ex-conselheiro de ciência do Reino Unido que encabeça o CCAG, à Bori.

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