Sono: "Este estudo sugere que há certo mérito neste antigo conselho: 'Não vá para a cama com raiva'" (Thinkstock/Thinkstock)
AFP
Publicado em 29 de novembro de 2016 às 22h28.
Uma boa noite de sono pode reforçar lembranças negativas no cérebro, disseram pesquisadores na terça-feira, dando credibilidade científica ao velho conselho de evitar ir para a cama com raiva.
Cair no sono enquanto a mente está concentrada em uma memória ruim recém-formada ajuda a gravá-la no cérebro, tornando mais difícil se livrar dela mais tarde, relatou uma equipe de pesquisadores da China e dos Estados Unidos em um artigo publicado na revista científica Nature Communications.
"Este estudo sugere que há certo mérito neste antigo conselho: 'Não vá para a cama com raiva'", disse à AFP Yunzhe Liu, coautor do estudo, que conduziu a pesquisa na Universidade Normal de Pequim.
"Nós sugerimos que primeiro se resolva a briga, antes de ir dormir", acrescentou.
Liu e colegas testaram o impacto do sono na memória de 73 estudantes universitários.
Os participantes, todos homens, foram treinados durante dois dias para associar imagens específicas com memórias negativas.
Mais tarde, eles olhavam para as fotos novamente e eram instruídos a recordar as associações negativas, ou a lutar contra elas e não deixar a memória ficar na sua mente.
O teste foi feito duas vezes - uma vez depois de que os participantes tiveram uma noite de sono, e uma vez apenas meia hora depois de uma sessão de treinamento.
Durante todo esse tempo, os cientistas examinaram a atividade cerebral dos participantes.
Os participantes acharam muito mais difícil suprimir as memórias negativas depois de dormir, segundo a equipe.
E os exames revelaram que as lembranças provavelmente estavam sendo armazenadas em uma parte do cérebro com conexões de memória de longo prazo.
Sabe-se que o sono afeta a forma como a informação recém-adquirida é armazenada e processada no cérebro, passando de redes de curto prazo para redes de longo prazo.
Memórias de eventos negativos ou traumáticos muitas vezes duram mais do que as lembranças positivas ou neutras, disseram os pesquisadores.
Mas elas podem, até certo ponto, ser conscientemente controladas.
A incapacidade de suprimir memórias ruins já foi associada a uma série de problemas psiquiátricos, incluindo depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Antes deste estudo, "não sabíamos se era melhor ou pior suprimir memórias (negativas) antes ou depois do sono", disse Liu.
Uma melhor compreensão desses processos pode ajudar a aperfeiçoar o tratamento de condições como o TEPT.
"Por exemplo, a privação de sono imediatamente após experiências traumáticas pode impedir que memórias traumáticas se consolidem, e assim proporcionar a oportunidade de bloquear a formação de memórias traumáticas", escreveram os autores do estudo.