Ciência

Desenvolver vacina para covid-19 em dois anos seria um recorde, diz Kalil

Professores da saúde participam de exame.talks para discutir o progresso de medicamentos contra novo coronavírus

Coronavírus: professores debatem sobre medicamentos para tratar Covid-19 (Exame/Reprodução)

Coronavírus: professores debatem sobre medicamentos para tratar Covid-19 (Exame/Reprodução)

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Maria Eduarda Cury

Publicado em 30 de abril de 2020 às 14h16.

Última atualização em 30 de abril de 2020 às 17h21.

Com o aumento do número de casos e mortes por coronavírus em todo o mundo, profissionais da saúde estão correndo contra o tempo para descobrir remédio e vacinas para tratar o novo coronavírus. Nesta quinta-feira, 30, participam do exame.talks os professores da área da saúde Lygia da Veiga Pereira e Jorge Kalil, para debater sobre o avanço da medicina e a atuação dos profissionais diante da pandemia. O bate-papo foi mediado pelo editor de tecnologia e ciência do portal EXAME, Lucas Agrela.

De acordo com Kalil, que é professor titular da Faculdade de Medicina da USP e diretor do laboratório de imunologia do Incor, caso os cientistas consigam entregar uma vacina contra o novo coronavírus em dois anos, seria um tempo recorde. Ele acrescenta que o tempo tradicional seria cerca de 10 anos, mas que o fato de que cientistas que trabalharam contra epidemias como SARS e MERS estarem na linha de frente do desenvolvimento faz com que o tempo seja reduzido. 

Professora titular do Instituto de Biociências da USP e líder do projeto DNA do Brasil, Pereira comentou que, embora a ciência não costume agir de acordo com a urgência do paciente atual, a cooperação entre vários países acabou adiantando a expectativa para uma vacina - cientistas já falam em uma primeira vacina a daqui um ano e meio. "É preciso, mais do que nunca, caminhar com responsabilidade e medindo a ousadia", disse a professora.

De acordo com Kalil, um dos principais sintomas da doença - e um dos mais importantes a serem observados - é a insuficiência respiratória, e diz que respiradores são necessários para acelerar a melhora de casos medianos e graves: "Nas insuficiências respiratórias agudas, o que acontece é que a frequência das trocas gasosas diminui, e precisamos combater esse cenário com maior rapidez para que seja possível salvar o paciente", disse o professor.

Sobre remédios e vacinas que estão sendo testados no exterior, Pereira diz que é necessário ser mais cuidadoso na hora de divulgar e comentar sobre potenciais remédios: "O WhatsApp, por exemplo, virou um local de desinformação. Tenho amigos comprando desde antiácido até aspirina, porque ouviram alguém falar que são possíveis remédios contra o covid-19 - assim como aconteceu com a cloroquina", acrescentou a professora. Ela complementa que o arsenal biotecnológico e biocientífico do Brasil para criar e testar um remédio eficaz é excelente.

Falando dos medicamentos já utilizados em testes, Kalil diz que todos já haviam sido previamente aprovados para uso humano. Um exemplo é a cloroquina que, de acordo com o professor, já estava aprovada para uso humano, mas sua eficácia não foi comprovada, visto que agiu de forma diferente em diversos pacientes. Isso significa que, mesmo que funcione para um paciente, não deve ser lida como uma maneira eficaz para todos os quadros. "Nesse momento, os cientistas devem provar que os medicamentos não irão causar mais mortes e, sim, salvar o maior número de pacientes", complementou Kalil.

Para medir a necessidade do distanciamento social, Pereira diz que os indivíduos precisam estar atentos sobre a lotação de hospitais: "Se os postos de saúde estão com lotação máxima, significa que não é hora de sair de casa", afirmou a professora. Além disso, também é preciso divulgar a informação de quantas pessoas estão realmente imunes ao vírus, ou seja, realizar o exame sorológico quando possível. "Para testar um possível relaxamento do isolamento social, seria necessário testar uma pequena abertura e acompanhar a progressão de novos casos", disse Pereira.

Para Kalil, é preciso decrescer e realizar mais testes antes de permitir que as pessoas voltem a circular livremente pelas ruas: "O vírus veio para ficar. Para garantirmos que a maior parte da população esteja segura e imune, seria necessário que mais de 70% da população fosse contaminado", afirma o professor. Tanto Kalil como Pereira, que estão na frente de dois projetos para achar uma nova vacina, acreditam que o Brasil tem um potencial para achar um tratamento eficaz em tempo recorde - mesmo que exista uma diminuição de equipes e uma dificuldade em dar credibilidade aos cientistas nacionais.

Sobre o impacto da pandemia no âmbito nacional, Pereira acredita que existirão mudanças sociais e psicológicas sobre como o brasileiro reage diante de dados científicos. Kalil complementa que, daqui para a frente, o povo necessita entender que quem deve indicar o melhor caminho são profissionais da saúde, e não políticos: "Acredito que seja fundamental que os representantes do governo determine as medidas, mas escutando aqueles da área que trabalham em seu nome", adicionou o professor.

Para finalizar, os professores comentaram suas expectativas para o progresso do tratamento. Pereira aconselha que os indivíduos respeitem a ciência:"É preciso ter paciência com o ritmo da ciência séria, da ciência que é realmente eficaz. Ela pode não seguir o ritmo da ansiedade de cada um, mas atropelar o seu tempo não é a melhor solução", completou a professora.

E sobre o funcionamento da economia do país, Kalil diz que as empresas precisam seguir as normas de saúde, pois o bem-estar de seus funcionários é primordial. "Precisamos olhar para os dados e achar um melhor meio para que o maior número de pessoas estejam seguras. É preciso ter inteligência e conhecimento científico para que a economia volte a rodar de forma eficaz", finalizou Kalil.

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