Ciência

Desaparecimento repentino de rio no Canadá assusta cientistas

Trata-se do primeiro caso conhecido de "pirataria fluvial" nos tempos modernos por influência das mudanças climáticas

Foto aérea de 2 de setembro de 2016 mostra a corrente de água ao longo do glaciar Kaskawulsh (à esq.) que está desviando fluxo de um rio para o outro. (Dan Shugar/ Universidade de Washington Tacoma/Reprodução)

Foto aérea de 2 de setembro de 2016 mostra a corrente de água ao longo do glaciar Kaskawulsh (à esq.) que está desviando fluxo de um rio para o outro. (Dan Shugar/ Universidade de Washington Tacoma/Reprodução)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 19 de abril de 2017 às 17h25.

Última atualização em 19 de abril de 2017 às 17h25.

São Paulo - Geralmente, são necessários milhões de anos para um rio desaparecer ou reverter seu curso natural. Mas para o rio Slims, no Canadá, quatro dias foram suficientes.

Em artigo publicado nesta semana na revista Nature Geoscience, cientistas descrevem o sumiço repentino do rio, em maio do ano passado, como o primeiro caso conhecido de "pirataria fluvial" nos tempos modernos por influência das mudanças climáticas, o que levanta preocupações.

A pirataria de rios, também chamada de captura fluvial (do inglês "river capture" ou "stream piracy"), corresponde ao desvio natural das águas de uma bacia hidrográfica para outra, processo que promove a expansão de uma drenagem em detrimento da vizinha.

Segundo os pesquisadores, as altas temperaturas registradas na primavera passada contribuíram para um derretimento abrupto do glaciar Kaskawulsh, que alimenta o rio Slims, fenômeno que acabou gerando um novo canal de drenagem da água.

Ao invés de fluir para o norte e alimentar o rio Slims (que se une ao rio Yukón e desemboca no mar de Bering), a água do degelo foi desviada para o sul, rumo ao rio Alsek, que deságua no oceano Pacífico, um fenômeno geológico que normalmente levaria milhões de anos para acontecer.

Anteriormente, os dois rios tinham quase o mesmo tamanho. Mas, agora, o rio Alsek  popular pela prática de rafting e considerado um Patrimônio Mundial da Unesco  está maior do que o rio Slims.

"Podemos nos surpreender com o que a mudança climática nos reserva e alguns dos efeitos podem ser muito mais rápidos do que esperamos", disse o principal autor do estudo, Daniel Shugar, da Universidade de Washington, ao jornal The New York Times.

Mudança abrupta

Segundo Shugar, até agora, muito do trabalho científico que envolve as geleiras e as mudanças climáticas tem se concentrado no aumento do nível do mar, porém o novo estudo mostra que pode haver outros efeitos subestimados e imprevistos.

A alteração do padrão de drenagem de um rio reserva ameaças preocupantes. O caso do rio canadense ocorreu em área selvagem relativamente pouco povoada e, portanto, sem grande impacto nas populações humanas.

Porém, o sumiço do rio teve um impacto dramático sobre o ecossistema, redistribuindo as populações de peixes, alterando a química dos lagos próximos e assolando a região com uma série de novas tempestades de areia.

No contexto global, outros rios alimentados por glaciares, que fornecem energia hidrelétrica e abastecimento de água a regiões mais povoadas, também poderiam estar em risco.

"Este não será o último [evento], avisou Lonnie Thompson, paleoclimatologista da Universidade Estadual de Ohio, em entrevista ao The Guardian. "Incidentes semelhantes podem acontecer nos Himalaias, nas montanhas dos Andes da América do Sul, ou outras partes do Alasca e Canadá, a medida que a mudança climática se acelera".

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